PULSAR
A luz intensa que clareou tudo instantaneamente chegou do nada. Um simples pulsar de veias, o intervalo entre batimentos cardíacos, o bater de asas de uma borboleta, a dilatação de uma pupila. Tudo ocorreu em um átimo de tempo.
***
O que aconteceu? Onde estou? Não estou conseguindo lembrar-me de nada. Não consigo sentir meus braços e pernas. Abro os olhos e não vejo nada, nem escuridão, nem uma mísera réstia de luz, não consigo sequer conceituar o que meus olhos veem ou não veem. O que houve? Eu estou morto? Eu devo estar morto. Uma onda de medo e terror misturado com surpresa e angústia se misturam.
Calma! É hora de se manter calmo custe o que custar. Tento colocar a mente no lugar. Se eu morri porque eu continuo a pensar? Eu estou com medo, mas se sinto medo é porque sou capaz de sentir coisas, então eu estou vivo.
Aos poucos meus olhos vão conseguindo divisar o que está ao redor. De onde estou consigo ver uma cama de hospital e uma pessoa deitada nela. Observo que tubos e cateteres estão ligados aos seu corpo. Aparelhos estão ao lado do leito e mostram números e linhas que não sei dizer o que significam.
De onde estou vejo um corpo inerte que não reage a nenhum estímulo. Sou eu que está deitado ali.
Correria e agitação. Sinto que algo clama por mim, mas o maquinário acoplado ao meu corpo teima em dizer não para essa coisa. Pessoas que não sei quem são fazem toda sorte de coisas em meu corpo.
Algo está me levando embora e a única coisa que me ocorre agora é pensar que não consegui entregar o colar de borboletas para Isadora. Uma vida recheada de coisas para eu me despedir e eu só penso no colar de borboletas. Ela ama esses bichinhos. Nunca prestei atenção nesses insetos, mas de repente eles ganharam um significado especial para mim. Espero que para onde eu vá tenha um borboletário completo me esperando...
- Ei, moço, é hora de acordar.
A voz que escuto se confunde com as asas de uma borboleta. Ainda sentindo a vivência onírica eu busco pelas borboletas multicoloridas , mas o que vejo são os olhos castanhos claros de Isadora.
- Eu proíbo vossa senhoria de morrer sem combinar antes comigo. Viu muitos anjinhos tocando harpa por lá? - Ela fala isso e observo que as covinhas em seu rosto ainda estavam lá. Era o mesmo sorriso.
Quando respondo meu peito dói e minha garganta parece dizer que passaram um arado nela.
- Não, só tinham borboletas...