Contos do inconsciente. N°6 (A mansão misteriosa).
Os dois homens adentraram a enorme casa pela porta principal. A mansão tinha uma arquitetura fantástica, sendo este predicativo devido tanto a sua construção por meio das engrenagens oníricas do sonhador quanto pela sua perfeita e assustadora opulência estrutural, o que lhe dava um ar terrivelmente fantasmagórico.
Os invasores, que tinham uma diferença significativa de idade, iam pé por pé, tendo o mais novo a dianteira da incursão cada vez mais sinistra. Após passarem pelo hall de entrada do domicílio, viram uma escada em formato de caracol no canto direito do recinto, no completo breu, muito parecido com o cenário da famosa pintura de Rembrandt, do filósofo meditando, faltando apenas a claridade vinda da janela à esquerda e do referido pensador sentado em sua cadeira. Sem hesitarem, subiram os degraus, que rangiam cada vez mais alto na medida em que iam chegando mais próximo do andar superior. Os barulhos ouvidos na casa não estavam vindo somente dos passos firmes e pesados dos exploradores; um ruído fino e ininterrupto estava sendo percebido com cada vez mais nitidez por ambos. Embora o homem mais velho estivesse dizendo algumas palavras de comedimento ao jovem conquistador, a dupla seguia a jornada em direção a não se sabe o quê.
Quando alcançaram o elevado cômodo, se viram no meio de um pequeno corredor, com piso, paredes e portas de madeira. O lugar também estava mergulhado na escuridão, podendo ser visto apenas três portas fechadas, uma à frente e uma em cada lado do campo de visão dos assaltantes. De repente, a porta da esquerda se abriu, e o que se viu foi uma cena estranha: um homem sentado em uma poltrona reclinável, de costas para a porta, tendo um sujeito e uma moça, um em cada lado seu, fazendo algum tipo de tortura ao rapaz que não tinha o rosto à mostra. No momento em que o casal de agressores percebeu os homens na entrada da porta, homem e mulher deram uma risada simultânea que assustou os admiradores da cena, fazendo-os correrem para frente, em direção a próxima porta, que estava trancada, mas que foi aberta sem dificuldade pelo amigo mais velho.
O quarto no qual entraram contrastava em alguns aspectos com as outras partes da casa que já haviam sido vistas pelos dois homens; também era um dormitório de grandes proporções, mas só que muito bem iluminado e com vasta mobília; dava a impressão de ser um quarto de casal, visto que havia uma enorme cama com a cabeceira encostada na parede lateral, de frente para um grande guarda-roupa. Ao lado da porta, à esquerda, havia uma cômoda e um espelho em formato oval.
O homem mais novo fechou a porta logo ao entrarem e se agachou em um canto, perguntando ao mais velho o que poderia ser feito se o casal de maneiras sinistras resolvessem vir atrás deles, no que este respondeu:
-Fique tranquilo, a casa é minha. Eu tenho uma arma escondida nessa mesma gaveta onde você está encostado. Abra pra você ver.
A fala foi proferida de um jeito não muito peculiar para a situação, com extrema calma; o homem mais velho parecia estar com uma altura maior, o que poderia ser resultado da posição em que ambos se encontravam no momento.
- Pegue a arma Cristian.
Novamente não havia tensão alguma na sua voz. Cristian abriu a gaveta e desenrolou a arma, que estava envolta em um emaranhado de trapos. A pistola semi-automática já estava nas mãos de Cristian quando a porta do quarto foi aberta e o sádico casal entrou a procura do jovem.
- Aí está você. Estávamos lhe esperando há algum tempo. Não precisa apontar essa arma para nós. Essa casa é sua também, e caso você nos atire, você estará ferindo a você também. Venha conosco, a sua poltrona está lá, do mesmo jeito que você deixou da última vez em que nos visitou.
Após ter ouvido essas palavras da boca do homem, Cristian largou a arma sobre a cômoda e viu seus três companheiros de cena saírem lentamente pela porta. Estava tudo tranquilo outra vez.