A "CURVA DO DIABO"
A "CURVA DO DIABO"
Era tempo de eleição e a cidade estava em polvorosa... o pessoal evangélico não queria a modernidade do "complexo de lazer" (?!) em torno da famosa "curva do diabo", na avenida principal, já na saída para a cidade vizinha. Pista larga, embora ainda de barro, que virava um "mingau amarelo" e escorregadio a cada chuva. Mesmo com tempo seco o pessoal exagerava na velocidade e o carro findava dentro de um dos 3 Motéis, para alegria dos piadistas, se o veículo fosse um FORD ou KADETT, mas até o Passat servia como trocadilho.
O pastor Epaminondas era o candidato da hora, quase invencível devido ao crescimento da horda pentecostal e assemelhados... queria o fim daquele "ninho de libidinagem" que corrompia a juventude e separava famílias. Já o prefeito Nonato pensava em asfaltar aquele trecho da perigosa avenida, onde tantos morreram ou se acidentaram. E tinha bons motivos: a "putaria" rendia um bom dinheiro para os cofres municipais, o "rodízio de carne fresca" nos 3 motéis era intenso, o posto de gasolina faturava alto e o restaurante "fastfood" funcionava dia e noite, afinal "transar" dava fome. Até os táxis não saíam dali, porque nem todos tinham carro e "crente" também "se multiplica"... vários rapazes e uma ou outra moçoila "universal" já fôra vista, toda encasacada, de óculos e chapéu, indo rumo a "Curva do Diabo".
Asfaltar aquele trecho agradaria a meia cidade, era o ponto alto dos "rachas" de motos e de carros nos fins de semana. Pastor Epaminondas ameaçava "fechar aquele antro de perdição", inexperiente que era em Administração, a financeira pelo menos. Seria a ruína da "Xoxolândia", apelido pelo qual BRECHA ESTREITA ficara conhecida. Terra de bandeirantes -- que desbravaram aqueles ermos -- Brecha Estreita corria o risco de ficar sem seu comércio mais rendoso e COMER era só o que se fazia por lá.
O prefeito, às vésperas da eleição, menos de 15 dias, perdia feio nas pesquisas, o "exército de Jeovah" iria destruir aquelas "casas da pouca-vergonha". Seria o fim da cidade, que não tinha outros meios de sobrevivência. No desespero, ele distribuiu "cartões de visita" aos Motéis para quem nele votasse, com direito à noite grátis no Motel de sua escolha... isso animou até evangélicos mais "flexíveis", os motéis atraíam a atenção geral. Foi a vez do pastor Epaminondas desesperar-se, afinal "casa por casa", tanto fazia se amarem aqui ou lá, só que no Motel a "coisa" acontecia "com mais calor" !
Chamou o prefeito para uma conversa reservada... ele desistia da competição, do futuro cargo, se o dr. Nonato criasse um "imposto da safadeza", discreto e sem testemunhas, cuja renda iria pros bolsos do pastor, digo, "para as obras da Igreja", dos templos todos... e olha que não eram poucos ! De repente Epaminondas silenciou, não criticava mais "a curva do diabo", dizem as más línguas terem visto a filha dele "visitando" um Motel com o namorado diácono, ou coisa parecida.
Em menos de 3 dias todo o "complexo de lazer" estava revigorado, asfaltado e sinalizado, os motéis em ritmo intenso, sem intervalos e os "rachas" mais ruidosos e emocionantes, trazendo multidões de jovens desocupados para apreciarem os embates entre veículos. O prefeito reelegeu-se com folga, o pastor encheu seus cofres e, supõe-se, até o Diabo passa lá vez ou outra para ver as "corridas".
"NATO" AZEVEDO (em 29/julho 2023, 5hs)