Era uma noite muito escura, sem vento, vagalumes e qualquer lume que pudesse alumiar o silêncio do lugarejo destinado a Santo Antônio.
Poucas casas ao redor da Igrejinha davam o tom ao povoado. Escola e Igreja seguiam como os mais importantes prédios a serviço da comunidade simples, que buscava água na bica, acenava para o trem que passava e caminhava uma légua para chegar à estação do trem.
Contava o povo ... um rondante, funcionário responsável pela inspeção da linha do trem durante a noite, morrera naturalmente, depois de muitos anos de serviços prestados naquele vai e vem sobre trilhos. Mesmo após a sua morte, a luzinha vermelha da lanterna inspetora continuava trilhando noite adentro, cumprindo a tarefa do dia.
E naquela noite escura, puro breu... avó e neta recolheram-se no mesmo quarto. O cenário levava ao paraíso de Morfeu até que... um toque - toque fora ouvido na área da frente do quintal. E o barulho aumentava conforme a noite adentrava. .. e assim a noite toda, com todo o medo do mundo, não dormiram, apenas... se encolheram e rezaram. Imaginaram a luzinha vermelha do senhor falecido rondante passando pelas vistorias costumeiras na linha do trem.
Imaginaram assombrações, lobisomens, almas do outro mundo...
Quando o dia começou a se mostrar... avó e neta, com toda a coragem do mundo, abriram a porta da frente da casa e encontraram um grande cachorro deitado junto à entrada... e coçava e coçava...e a cada coçada batia o cotovelo na porta, retumbando como o tambor de um indígena no ato de convocação para a dança da chuva.
O dia sorriu...
pequeno
sereno
diante das emoções noturnas...
soturnas!
Foto by Zaciss