CONFUSÃO "EM FAMÍLIA"

CONFUSÃO "EM FAMÍLIA"

Que coisa curiosa... meu irmão me acorda -- às 15,30hs, para passear com o vira-lata "TICO" -- de um sonho onde eu fazia a correção de um conto completo, terminado. E não consegui lembrar de 1 linha sequer do texto... isso é que é castigo ! Porém este é um "conto pensado", mesmo ainda não tendo "um final" para a estória. Vamos a ela:

***** ***** *****

O rapaz, já pelos 30 e poucos anos, bem conservado, adentra o consultório do doutor, este espantado, com tal idade é incomum procurarem-no para resolver problemas.

-- "Bom dia, doutor, meu caso é um pouco estranho... o senhor está vendo "chifres" em minha testa" ?!, e afasta com as mãos os cabelos revoltos.

-- "Amigo, está havendo um engano... seu caso é para advogado, sou médico de disfunção erétil, problemas de fundo emocional, talvez físicos" !

-- "Já chego lá, doutor... me tornei pai faz alguns meses, mas acho que o filho é do vizinho. Seu consultório faz exames de DNA, pelo que sei" !

-- "Sim, com certeza, só em casos muitos especiais... um filho é um presente de Deus, pouco importa quem o fez ! Crie o seu da melhor forma possível e sejam felizes, você e ele" !

-- "Eu bem que gostaria... mas essa dúvida não me deixa dormir. Posso fazer o exame do meu bebê" ?!

-- "Você pretende se separar da esposa logo agora, quando ela e a criança mais precisam de você, é isso" ?

-- "De jeito nenhum... amo a Dora desesperadamente" !

-- "Como é? Mas porque então quer o tal exame" ?!

-- "Meu receio é ser um "pai-tio"... ter um filho-sobrinho" !

O médico, já idoso, engasgou-se, tossiu, bateu desesperado no peito ossudo. Jamais ouvira tal disparate:

-- "Explique isso melhor, não consegui entender" !

-- "Meu vizinho é meu irmão, casado com uma prima da Dora, "quase irmãs" de tão semelhantes. Quero crer que o mano andou "visitando" minha casa ou, pior, a Dora pode ter ido parar na cama dele" !

-- "Então, está "tudo EM CASA"... gracejou o médico. Corrigiu-se em seguida:

-- "Desculpe, quero dizer... se você AMA sua esposa, não quer se separar dela, tal exame só viria lhe trazer confusão. Desista dele enquanto é tempo" !

-- "De jeito nenhum... com essa dúvida eu não morro" !

-- "Pois bem, marcarei o exame de DNA para dentro de 1 mês, isso lhe dará tempo para repensar a questão" !

Passaram-se 3 ou 4 dias e o ancião quase teve um enfarte.

-- "O senhor aqui, de novo ?! O que quer agora" ?

-- "Desculpe, doutor, deve estar havendo algum engano" !

-- "Seu nome não é Márcio, por acaso" ?!, diz, estupefato.

-- "Não, senhor, eu sou o Múrcio, ele é meu irmão gêmeo" !

O médico arregalou os olhos, a Natureza gosta de "fazer gracinhas"... até as ondas dos cabelos eram idênticas !

-- "O senhor tem problemas de ereção, nessa idade" ?!, atacou o médico, torcendo para vê-lo correr do escritório.

-- "Não, doutor, sou "um touro", a Flora às vezes até reclama" !

-- "Por acaso veio doar esperma, é isso" ?

-- "De jeito nenhum, quero apenas fazer exame de DNA" !

A estória inteira voltou à cabeça do doutor, que resolveu divertir-se com a situação:

-- "Então, o senhor achou seu pai e quer confrontá-lo" !

-- "Muito pelo contrário... virei pai a contragosto, já que uso camisinha. A Flora diz que foi acidente, mas acho que ela andou transando com meu vizinho" !

-- "Huumm... e o que o rapaz pretende fazer ?! Jogar o filho FORA, como um sapato velho ? Não prefere vê-lo como uma BÊNÇÃO, uma dádiva divina, ao tornar sua esposa MÃE" ?!

-- "Ainda não sei, estou confuso, não consigo dormir sabendo que o filho da vizinha É MEU... o problema é que parece que o vizinho "me deu o troco" !

-- "Bem, nesse caso o castigo "veio a jato" e não a cavalo. O senhor pretende fazer o quê à respeito" ?

-- "Primeiro, o exame de DNA... não quero ser um "pai-tio", se fôr preciso "troco as crianças", igual em novelas" !

-- "Amigo, isto É CRIME... e cada criança conhece bem a sua mãe, o cheiro e o jeito dela ! Isso vai ser um desastre" !

-- "Depois do resultado do exame eu decido o que fazer" !

-- "Melhor seria os dois criarem juntos os bebês, tratando-os por igual até os 8 ou 10 anos... aí, sim, revelariam a situação. Veja bem, é uma proposta razoável" !

-- "Vou aguardar o resultado, depois decido o que é melhor" !

O problema era CONVENCER as esposas a fazer o tal exame e, pior, levar os recém-nascidos, a "prova" dos "crimes", da traição. O tempo foi passando e nada de nenhum dos machos tomar a iniciativa de "virar a mesa", de iniciar a confusão que abalaria suas confortáveis existências. Ambos amavam as esposas e não pretendiam se separar delas. Eram dois "Bentinhos" com sua "Capitu" -- olhar maroto para o marido da amiga -- a "insinuar" que o menino no seu colo "era dele".

O tempo foi passando sem mudança alguma, os meninos brincando juntos na casa de um ou do outro, pai-tio ou tio-pai, conforme o caso. O tempo "voou" no consultório e, numa revisão de documentos antigos, pararam nas mãos do doutor as duas fichas dos rapazes e toda estória veio à tona. Supondo que ambos fossem à Justiça contra as esposas -- por traição delas, claro -- corriam o risco de que elas, com um bom advogado, anulassem o processo inteiro. Afinal, com a constante queda de energia elétrica em Belém, na noite fatídica elas "se deitaram" (?!) com o vizinho POR ENGANO, equívoco, já que até no perfume usado eles eram IGUAIS ! Logo, "se de noite todos os gatos SÃO PARDOS", segundo o povo, "gatos gêmeos" são PARDÍSSIMOS, foi impossível distinguí-los à luz de velas. "Que sejam inocentadas as pobres mães"!, exigiriam os causídicos. Quanto aos "gatos cornos"(ou seria o inverso ?) era melhor imitar "Dom Casmurro", que fugiu para a Europa sozinho, só para não ver todos os dias o filho "do amigo".

"NATO" AZEVEDO (em 13/julho 2023m 21hs)