ESTRANHAS ESTRADAS... – O MEU NOME – Continuação – Parte II
ESTRANHAS ESTRADAS – O MEU NOME – CONTINUAÇÃO – PARTE 2
j.torquato – julho - 2023
EU MESMO FIQUEI PASMO, ALI PARADO OBSERVANDO UMA BANCA DE REVISTA, SIM AINDA TINHA BANCAS DE REVISTAS, NEM FUI OLHAR QUE TIPO DE REVISTAS ERA.
- MEU NOME É FRANCISQUINHA.
- AH TÁ DONA FRANCISCA, O MEU NOME É JOSÉ
- PRAZER SEU JOSÉ, MAS MEU NOME NÃO É FRANCISCA, É FRANCISQUINHA MESMO,
- HÃ??
- FRANCISQUINHA TÉRCIA DE ARAUJO BARROS PARA VOS SERVIR
- TÁ MEU NOME É JOSÉ MALAFAIA DE ALMEIDA BARROS.
- VOCÊ É DE ONDE, ONDE MORA?
- NA JATUICA, EM MACEIÓ ALAGOAS, UM CONJUNTO RESIDENCIAL NOVO COMPRADO A COHAB. E TRABALHO EM UMA CONSTRUTORA EM PAULO AFONSO NA BAHIA. TENHO 23 ANOS, SOU CASADO PAI DE DUAS MENINAS ESTOU VINDO A MACEIÓ PARA PREENCHER E ENTREGAR A CAIXA ECONÔMICA A RAIS DESTE ANO – É UMA RELAÇÃO DE ADMITIDOS E DEMITIDOS ANUAL. E CLARO, VER MINHA FAMÍLIA.
- ONDE?
- CONJUNTO SANTO EDUARDO NO POÇO
- VAMOS PARA LÁ ENTÃO
- AINDA NO ÔNIBUS N. S. DE FÁTIMA? PEGANDO NA PRAÇA DEODORO?
- NÃO TEM MAIS NEM A LINHA E NEM O PONTO, VAMOS DE UBER.
- HEIN?
- UBER É UM CARRO COMUM QUE SERVE DE TAXI, CHAMAMOS PELO CELULAR, QUE É ESTE APARELHINHO AQUI.
ELA ME MOSTROU UM RADINHO DE PILHA PRETO, BEM FININHO, QUE ACENDEU E ELA DEDILHOU EM CIMA DELE, EM SEGUIDA PEGOU NO MEU BRAÇO E DISSE VAMOS....
- O ANTES AO MESMO TEMPO -
EU ESTAVA OLHANDO POR DEBAIXO DE MEU SOVACO, LÁ PARA BAIXO JAZIA UM FUSCA VERDE, TODO AMASSADO, MONTADO EM CIMA DE UM BANCO DE PASSAGEIRO COM PAPEIS EM TODA SUA VOLTA.
- MAIS ALGUÉM SE ACIDENTOU AQUI, PENSEI EU
E FIZ FORÇA PARA SUBIR AGARRANDO RAÍZES DE MATOS, MAS OS BRAÇOS NÃO OBEDECIAM A VONTADE DO PENSAMENTO. SENTIA-ME UM INÚTIL NA BEIRA DO BARRANCO, PRECISANDO DE SOCORRO. ALGUM TRANSPORTE PESADO PASSOU TALVEZ UM CAMINHÃO. RENOVEI MINHAS FORÇAS PARA PEDIR SOCORRO DESTA FEITA OS BRAÇOS OBEDECERAM E EU CONSEGUI SUBIR ATÉ O ACOSTAMENTO, RASTEJANDO. UM CAMINHÃO DE CARGA PAROU MAIS ADIANTE, E DEPOIS FOI EMBORA. ACENEI DESESPERADAMENTE, MAS NADA ACONTECEU.
DE REPENTE APARECE UMA CAMINHONETA AZUL S-10 E FOI PARANDO. UM RAPAZ DA MINHA IDADE, SAIU DELA E VEIO EM MINHA DIREÇÃO COM O ROSTO PREOCUPADO.
- SENTE ALGUMA DOR NO CORPO?
- SÓ NA CABEÇA E AQUI NO PEITO, AQUI É COMO SE ME SUFOCASSE, É RUIM ATÉ PARA FALAR. MAS EU TENHO DIVERSAS FICHAS ESPALHADAS QUE SÃO DOCUMENTOS DA EMPRESA SOB MINHA RESPONSABILIDADE, PRECISO JUNTÁ-LAS E GUARDA-LAS ANTES QUE CHOVA.
ESTAVA SOL A PINO E SEM NUVENS, O ASFALTO FUMAÇAVA NO HORIZONTE, NÃO HAVIA NENHUMA PROBABILIDADE DE CHUVA NAQUELE SERTÃO, NAQUELE MOMENTO. MAS EU TINHA CERTEZA QUE ALGUMA ÁGUA IRIA DESTRUIR OS DOCUMENTOS. O CARA SE DISPÔS A AJUDAR COLETÁ-LOS, FUI AJUDAR MAS FIQUEI MUITO ZONZO, ALGUÉM MAIS SE APROXIMOU, ERA UM SERTANEJO CURTIDO, COM O ROSTO BENEVOLENTE E TAMBÉM PREOCUPADO, PERGUNTOU SE EU ESTAVA BEM, MAS O SANGUE DA CABEÇA CAINDO NO MEU OMBRO FALAVA POR MIM. ELE FICOU DISSE QUE TOMARIA DE CONTA DO CARRO E DOS DOCUMENTOS ATÉ QUE ALGUÉM CHEGASSE. EU DISSE QUE ME COMUNICARIA COM MEU PESSOAL, E FOMOS EMBORA PARA GARANHUNS EM PERNAMBUCO, MEDICAR-ME.
- O AGORA AO MESMO TEMPO -
- QUAL BLOCO E APARTAMENTO MORA? PERGUNTOU DONA FRANCISQUINHA.
- NÃO ME LEMBRO, SEI QUE É NO FINAL, UM DOS ÚLTIMOS CONJUNTOS DE BLOCOS.
O CARRO DAVA VOLTAS E EU NÃO RECONHECIA O BLOCO DE APARTAMENTOS EM QUE MORAVA MINHA FAMÍLIA. EXISTIA UMA DELEGACIA FALEI TALVEZ UMA IGREJA...
DEPOIS DE MAIS DE 2 HORAS TENTANDO, PERGUNTANDO, DESISTIMOS FICAMOS DE VOLTAR DIA SEGUINTE E FOMOS PARA CASA DELA NO BAIRRO DE BOM PARTO.
ME LEMBRAVA DO NOVO CANTOR NEGRO AMERICANO, COM UMA ESTRANHA DANÇA E UMA MUSICA ARRETADA, ELE FICAVA DANÇANDO E ENROLANDO AS MANGAS DA CAMISA, DANCEI FEITO LOUCO, CHAMAVA-SE MAICON JEFERSON OU QUALQUER COISA ASSIM, TAMBÉM “I FEEL LOVE” COM DONNA SAMMER. ME LEMBRAVA DA BOATE DO DJALMA, UM DOS NOSSOS PATRÕES NA CONSTRUTORA QUE TAMBÉM MORAVA EM MACEIÓ E NA JATIUCA.
NA CASA DELA, TINHA UM LUXO MEIO QUE CLÁSSICO, NA SALA HAVIA UM SOFÁ NORMAL E UMA TV PLANA, RETA, FINA E MUITO GRANDE, ERA COMO QUE UM QUADRO DE PINTURA EM CIMA DE UMA “MEIA ESTANTE”, LIGAVA DE LONGE COM UM APARELHINHO QUE ELA CHAMOU DE CONTROLE. ACHEI O MÁXIMO. MUDAVA DE CANAL E VOLUME TUDO A DISTÂNCIA, A GENTE NEM PRECISAVA SE LEVANTAR. ELA ME DISSE QUE JÁ EXISTIA APARELHOS COMANDADOS PELA VOZ DO DONO E ATÉ CASAS QUE ERA ASSIM, O CARA CHEGAVA E MANDAVA ACENDER A LUZ, O FOGÃO, SEI LÁ MAIS O QUE. CLARO QUE ERA INVENÇÃO DA VELHINHA, ELA RIA DO MEU EMBARAÇO.
EU OLHEI PARA ELA E PERGUNTEI:
- TEM CERTEZA QUE NÃO TOMEI TODAS NA ZONA DA MARIA DO MULUNGÚ NA NOITE PASSADA E ESTOU TENDO “DELIRIUS TREMULUS?”
- TÁ COM CARA DE RASSACA MESMO, MAS NÃO ESTÁ SOB EFEITO DO ÁLCOOL.
- QUE É AQUILO, AQUELE VELHO BARBUDO COM A CARA NOJENTA DE CACHACEIRO, É DE ALGUMA NOVELA? TÁ PASSANDO MARRON GLACÊ?
- AQUELE É NOSSO AMADÍSSIMO PRESIDENTE. E NÃO, ELE JÁ NASCEU ENCENANDO E ENGANANDO, MAS PARA A VIDA REAL. E NÃO, NEM ASSISTI A ESTA NOVELA, MAS OUVI FALAR. E ELA CONTINUOU.
- TAMBÉM SOU UMA ESTRANHA NO NINH0 COMO VOCÊ, NASCI EM 1917 NO MÊS DE MAIO, DEPOIS DA GRANDE GUERRA, PASSAMOS TODOS OS INFERNOS QUE O BRASIL JÁ PASSOU, ATÉ OUTRA GUERRA, MAS NUNCA UMA GUERRA COMO AGORA, SEM ARMAS, SEM SANGUE, SÓ COM A DOMINAÇÃO DA MENTE E DA ALMA. MAS O PROBLEMA É QUE ...
EU MORRI EM 1951 TAMBÉM NO MÊS DE MAIO.
FIM Da Parte 2
Continua.....................