Evolução do ovíparo
Penosa era uma galinha que teria passado despercebida se não temesse botar ovos. É que ela sabia da terrível história de uma infeliz companheira que tinha botado alguns ovos de ouro, mas que tivera um fim desagradável.
Coitada da penosa, como sofria!
Tomava anticoncepcionais, fazia tabela e usava até remédios à base de cálcios na esperança de que o suposto, mas adventício, ovo desistisse de nascer de ouro.
Pulseiras e brincos dourados, para penosa: nem pensar!
Mas ela não tem razão para tanto alarido, confidenciavam suas companheiras de quintal entre uma ciscada e outra. Seu namorado não passa de um frangote, catador de minhoca em quintal e que nada tem de nobre, comentavam.
Eis que certo dia o esperado acontece: Penosa descobriu que estava ovada. Foi um susto e tanto. Quase a pobre vai à loucura.
Coitada da penosa, como sofria!
Entre um bica-e-cisca daqui e um bica-e-cisca de lá, a infeliz totalmente desanimada da vida, passava o dia cantarolando có, có, ró, có, có, baixinho pelo quintal.
Mas qual foi a sua alegria, quando descobriu que o primeiro ovo botado não era de ouro. Deu um grito bem alto. Foi uma festa. Correu aos quatro cantos e cantou alto aos quatro ventos, có, coró, có, a sua felicidade.
A estória ainda nos diz que penosa descansara idos de dias, que botara muitos e muitos ovos, que, a cada ovo, ela não se continha e pulava de alegria. Corria e cantava anunciando ao mundo mais um ovo que não era de ouro.
Mas pelos caprichos da natureza, a cada ovo da penosa era um pintainho amarelinho.
Amarelinhos, amarelinhos... na cor do mais fino ouro.
Antes na cor em vida que no formato em ouro.