M U R M Ú R I O S

 

 

A minha permanência naquele hospital estava se tornando insuportável, não via a hora de sair dali e poder respirar ar puro longe daquele cheiro horrível de medicamentos. Tudo ali me incomodava, até funcionários e pacientes, nesses últimos dias eles até fingiam que não me viam enquanto eu perambulava pelos corredores em busca de uma saída para fugir do hospital, eu estava decidido. Eles pronunciavam palavras desconexas, murmúrios inaudíveis para mim, o que me deixava intranqüilo e estressado.

 

Cada dia que ficava ali era angustiante, preferia morrer a ter que aturar aquele monte de gente sem coração. Ainda bem que consigo andar, deixei aquele leito onde eu era praticamente um inválido, na verdade nem sei como consegui me livrar daqueles lençóis já fedidos, pois demoravam muito para trocá-los. Agora não preciso mais deles. O único empecilho nesse momento são essas pessoas que me tratam com desdém, mas sou livre agora, não preciso mais delas, vou para qualquer canto desse hospital e nem me lembro de comer enquanto os esfomeados estão sempre com um prato nas mãos.

 

A situação piorou nos últimos dias, desde aquela repentina dor quando ainda estava no leito e os minutos que se passaram comigo numa escuridão horrível, mas depois tudo clareou e eu me vi andando pelos corredores. Foi aí que começaram os murmúrios, as chateações e a falta de contato com médicos e enfermeiros, eles simplesmente fingiam não me ver. Isso me fez tomar a decisão de fugir dali, só que não conseguia encontrar a saída. Perguntava a um e a outro e ninguém me respondia. Eu já estava prestes a encontrar a porta de saída quando passei numa sala e vi um corpo coberto na pedra. Esse corpo era o meu.

 

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 23/06/2023
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