Morte em vida
Não sei de onde vieram. Nem mesmo sei seus nomes. Mas me emparedaram e foram tirando tudo que eu possuía. Primeiro meu trabalho, depois meu carro, meu dinheiro. Fiquei só com as roupas que cobriam meu corpo. Desesperado tentei correr, mas para qualquer direção que seguia, havia paredes. Todas instransponíveis. Passaram dias, anos, e eu nesta agonia.
Pensei - onde está minha vida? Meus amigos, meus amores, minha casa?
- Com o tempo ir ao shopping não me trazia nenhum prazer. Suas vitrines coloridas, via-as e percebi-as, todas em preto e branco. Os famosos e deliciosos hambúrgueres deixaram de ter sabor. Degustá-los eram como beber água – apenas gosto de nada – simplesmente água!
Nem as cervejas companheiras de tantas festas me alegravam, pelo contrário escureciam mais ainda a minha vida.
Recorri aos amigos, de porta a porta eu os procurava, mas estavam todas fechadas. Para onde foram todos?
Agora, era eu contra o mundo. Tudo que eu podia fazer, era rezar. Só Deus poderia dar-me um sentido outra vez.
Os cães de rua, agora, eram meus companheiros – me lambiam, mas não podiam conversar. Falavam outras línguas. Nos entendíamos pelo olhar. Aí percebi que havia muito tempo que eu não trocava uma palavra com ninguém.
Lembranças de alguns fins de semana em praias e no campo, cheias de prazer e alegria, foram se esvaindo. Como minha vida que a cada segundo não fazia mais sentido.
Meu celular tocou, e do outro lado eu ouvi em sussurro, “aqui é a morte, e vim te buscar... você está pronto!?”