O "TERROR" DO VILAREJO

O "TERROR" DO VILAREJO 

Na verdade, nem vilarejo era, a granja ficava bem afastada da cidadezinha e tinha vida própria, com o casario dos funcionários e gerente completando a paisagem. Era enorme, comandada com competência e rigidez ("mãos de ferro", diriam os antigos) pelo avô dos Guimarães todos, pai que era do pai de "Chiquinho", ou "Chico", o amor maior do vovô-coruja. O avô fôra atleta na juventude, gostava de "malhar" -- gíria da época, halterofilismo para os perfeccionistas da língua pátria -- adorava natação, corrida e via no franzino neto seu sucessor na herança esportiva. Assim, às escondidas do filho, o vovô dava pequenas doses de estimulantes musculares, dos quais ainda fazia uso, "apenas para manter a forma", dizia para si. O neto continuava "um fiapo de gente", "magro de ruim" dizia a populacho, meio avesso ao velho "durão". Nem o nutricionista contratado pelo zeloso avô conseguira descobrir a razão de tanta magreza. Porém, condenava a ingestão pela criança de anabolizantes e esteróides, traduzindo, hormônios para o crescimento... CRESCER, o menino crescia e, com ele, seu amiguinho de infância, o "Quiquirico", menos de 1/3 do tamanho do garoto, já um "varapau" em idade tão tenra. 

O que o avô não sabia é que o menino de 5, 6 anos dividia sua "cota" "do remédio para crescer" com o amiguinho, que quase dobrava de tamanho a cada semana, os membros "todos" estufando. Era um espanto, motivo de atração na granja inteira e, adiante, motivo de terror de gente bichos, agora apelidado de "Myke Tyson" pelos empregados da granja. Ficou indócil, mal-educado, perseguia todos sem distinção, mas em especial as frangas e galos, que os havia as centenas, afinal era uma granja. Sempre se disse que tais "remédios" estragam o humor e se o velho era ranzinza, o neto o copiara e "Myke Tyson" ficara bem pior. Para o bem de todos e felicidade geral das frangas torturadas pelo "bípede-capeta" -- que era branco, apesar do nome -- o avô tomou drástica medida: o amigo inseparável do netinho seria "desterrado", enviado pra cidade próxima pois se tornara insuportável, o "TERROR" da granja inteira. O neto implorou, jogou-se ao chão, esperneou mas o velho manteve-se irredutível... e lá foi a "peste" embora, num caminhão, cercado por iguais, olhos arregalados de espanto pela inesperada viagem. 

Duas semanas depois, já estava o "Myke Tyson" num supermercado, ao lado de vários "irmãos de infortúnio", mais gelado do que pinguim gripado. Quando uma senhora o segura, admirando o colossal tamanho, surge a seu lado um nutricionista, aquele do início da estória, para prevení-la que "aquilo" era fruto de anabolizantes, que ela escolhesse algo mais saudável para sua família, se não quisesse ter no futuro "barba e bigode". "Myke Tyson" tivera fim inglório -- para alegria da granja e tristeza do "Chico" -- e jazia no "freezer" da super-loja, entre os demais de sua espécie, FRANGO, super-frango aliás, confirmando o ditado de Rita Lee: "a Vida é mesmo... uma merda" ! "Chiquinho", agora "Chicão", "pega nos ferros" para cobrir de músculos aquela magreza assustadora, para satisfação do avô-coruja. Mal sabe o velho que o fedelho quer "ficar forte" só para "encher o avô de porrada" ! Ainda não esqueceu o amiguinho de infância e não pode sequer ver foto de frango assado, quanto mais comer 1... se mudou para a cidade, largando tudo !   

"NATO" AZEVEDO (em 13/maio de 2023, 4hs)

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OBSERVAÇÃO: meu "vizinho" aqui no RECANTO, o prof. EDGARD SANTOS, chama a atenção para o fato de que só o galináceo FICOU FORTE... provavelmente, a quantidade de "pózinhos" era pouca para o jovem de 1 metro, porém demais para um franguinho de palmo e meio. Em todo o caso, agradeço o comentário preciso !