O "PRESENTE DO AUSENTE"

O ambiente naquela clínica médica era tão familiar entre pacientes e funcionários que, quando alguém saía de férias sentia-se logo a sua falta e a recíproca era verdadeira. Com a frequência assídua de algumas pessoas que vinham se submeter ao tratamento de hemodiálise, por exemplo, formava-se um círculo de amizade que era muito bom, apesar de algum transtorno peculiar em todo o lugar de atendimento ao público. Procurava-se relevar as contrariedades e outras coisas eram postergadas, na medida do possível.

Conforme o tempo ia passando, fatos iam surgindo entre funcionários (as) e alguns pacientes. Até casos de alguém que chegou a falecer ali mesmo, enquanto alguém estava de férias e quando regressava tinha alguma surpresa como esta que foi apresentada a uma funcionária desta clínica após regressar do seu período de descanso. Vamos aos fatos:

- Logo que a funcionária Tânia cumpriu o seu período de férias e chegou cumprimentando a todos com aquela euforia que lhe era peculiar, contando algumas das principais novidades que viu e viveu durante as férias, uma delas foi esta:

- Gente, sabe quem eu vi nas minhas férias e nem falou comigo?

- Quem? - Quis saber todos, simultaneamente.

- O seu Gerônimo, que tinha dentes de ouro e usava sempre um chapéu bonito tipo Panamá, se não me engano.

- Você tem certeza que viu o seu Gerônimo ou ele lhe apareceu em sonhos? - Perguntou alguém, escondendo uma risada de quem quisesse lhe fazer uma surpresa.

- Lógico que eu vi ou acha que estou ficando doida? Eu estava passando na rua, perto da casa da minha irmã e vi aquele homem todo de branco, parecendo um médico, que logo me chamou a atenção. Principalmente por causa do chapéu e olhando para mim e dando risada que deu para perceber até os seus dentes de ouro. Foi aí que não tive dúvidas e pensei: o que seu Gerônimo está fazendo por aqui? Enquanto assim falava ela percebeu o sorriso zombeteiro oculto nos lábios dos seus colegas de trabalho e desabafou:

- O que vocês estão me escondendo ou querendo dizer com esta cara de zombaria e achando que estou falando alguma asneira? Vamos lá, desembucha logo!

- Calma colega, estamos quase rindo disto que você está falando porque isto mais parece uma “visagem”, ou seja, é o tipo de coisa que está totalmente fora do nosso conhecimento. Você não perde por esperar. Vem comigo - chamou uma colega já começando a rir - sabe aquele seu Gerônimo dos dentes de ouro e chapéu panamá que você acha que “viu”? Então, antes de morrer aqui mesmo na clínica teve a bondade de lhe deixar este “presente”: o chapéu panamá.

Logo que ficou sabendo desta notícia, Tânia ficou boquiaberta, enquanto passava um filme na sua cabeça sobre o dia em que achou que passou por aquele paciente, que na realidade tinha morrido, justamente naquele dia e hora em que aconteceu aquela “visagem” próximo da casa da sua irmã.

E, paulatinamente, a rotina começou a se desenrolar no interior daquela clínica, somando ao clima descontraído e até alegre, apesar da situação de alguns pacientes que estavam sendo submetidos aos procedimentos indicados pelos seus respectivos médicos.

Quanto o chapéu panamá, ela doou a alguém que estava precisando mais do que ela. Com o passar do tempo aquele “presente do ausente” ficou só na imaginação de cada um naquela Clínica de Hemodiálise na capital do Piauí.

JOBOSCAN
Enviado por JOBOSCAN em 01/04/2023
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