MARA - UM AMOR EM OUTRA DIMENSÃO
Não, não tivemos tempo de namorar, tudo foi muito rápido, muito melindroso, muito infantil. Os dias se passavam e eu me sentia como uma criança necessitando de colo. Talvez fosse mesmo uma criança, aos dezesseis anos eu via em Mara, também com a mesma idade, apenas um pedaço de mim. Ela era meiga, sensível e muito emotiva, derramava lágrimas por motivos simples e eu terminei me acostumando com o seu jeito de agir, de pensar. Me envolvi não com ela, mas com seus sentimentos. Nossa convivência dava a impressão de um namoro, de alguma coisa mais séria do que uma simples amizade. Amizade colorida, como chegaram a dizer alguns amigos nossos. Mas eu adorava Mara, parecíamos irmãos, conversávamos coisas triviais sem que isso levasse por outro caminho senão para alimentarmos uma boa relação entre amigos. E isso foi se prolongando até o dia em que Mara precisou fazer uns exames, já que sentia algo que preocupava a familia. Notei ela um tanto abatida sem no entanto demonstrar muita preocupação consigo mesma.
Alguns dias depois dela ter feito os exames percebi um certo reboliço em sua casa, seus pais estavam um pouco agitados e se preparavam para sair levando ela no carro. Era uma manhã linda, o sol ainda estava fraco quando seu pai tirou o carro da garagem, Mara já estava dentro dele e quando me viu ali de pé próximo do portão, olhou delicadamente para mim e pediu para descer do veículo para falar comigo. Os pais consentiram, apesar de estarem apressados. Ela desceu vagarosamente e veio ao meu encontro. E me abraçou. Senti algo estranho naquele momento sublime e fiquei até sem jeito quando ela beijou minha face dizendo que logo voltaria. Aquele beijo mudou completamente o meu modo de pensar, senti que alguma coisa estranha estava acontecendo comigo e eu nem sequer retribuí o seu beijo tanta era a minha emoção. Parecia uma partida sem volta. E foi.
Dali em diante eu cheguei a conclusão de que deveria ter feito algo com relação a nós dois, pois senti essa falta e sofri muito. Meus olhos se enchiam de lágrimas quando eu pensava nela, foi quando percebi que a amava. Eu soube depois que ela precisaria urgente de uma cirurgia no cérebro e tudo foi descoberto pelos médicos logo após o resultado dos exames. Como eu não entendia bem do assunto eu fiz a seguinte dedução: acúmulo de emoções em sua mente, falta de extravasão de sentimentos, o que causou uma espécie de "convulsão mental". Dois dias se passaram depois de sua ida para o hospital, onde ficou em uma unidade de terapia intensiva. Em seguida foi removida para um hospital no sul do país onde seria feita a cirurgia. Minha tristeza aumentou consideravelmente e isso me abatia, eu agora tinha certeza que a amava e fiquei aguardando o seu restabelecimento assim que essa cirurgia fosse feita. Pedi a Deus que tudo saísse bem e que ela voltasse para mim. Infelizmente isso não aconteceu e ela veio a falecer.
Me senti como se o mundo tivesse desabado sobre mim, todas as minhas esperanças deixaram de existir, o que fez me sentir só e abandonado por um amor que não chegou a nascer enquanto estávamos juntos. Ele surgiu muito tarde, tarde demais, porém foi alimentado por mim durante o pouco tempo enquanto Mara tinha vida e eu tenho certeza que ela também pensou assim, melhor dizendo, a partir daquele instante em que ela beijou minha face já sabia que também me amava. E nós vamos continuar nos amando mesmo ela em outra dimensão.