UMA VISÃO DE PAOLA

 

Vinte e sete anos não são vinte e sete dias, pensei isso quando vi Paola vindo em minha direção. Era uma tarde linda, o sol brilhava ainda apesar de estar exibindo os seus últimos raios do dia, o vento refrescante havia me convidado a passar um breve tempo no jardim dessa imensa edificação onde eu me encontrava. Estava pensativo, precisava repor as energias e nada melhor do que sentar em um dos bancos ali existentes e apreciar a natureza, ouvir o canto dos pássaros e ver o por do sol exuberante naquele lugar. Paola se aproximou e me cumprimentou gentilmente, apesar de todo esse tempo passado sem vê-la, sem termos contato, eu me senti como se a tivesse visto ontem, isso era muito natural, pelo menos para mim. O tempo não contava muito, não para todos, é claro, mas para mim foi uma sensação breve de alegria e que no decorrer dos minutos seguintes tudo se normalizou.

 

Essa bela jovem, agora diante de mim, foi minha companheira de faculdade nos anos oitenta, cursávamos Arquitetura, era o nosso sonho. Estávamos sempre juntos, nos intervalos das aulas lanchávamos no pátio da faculdade, isso era comum, nos divertíamos com a turma que insistia que namorávamos, mas a moça era comprometida, tinha seu noivo e já pensava em casamento, pelo menos era o que Paola me falava. E assim continuamos entre brincadeiras e suposições.

 

Já era tarde quando saímos da faculdade numa noite de chuva forte entre relâmpagos e trovões, passava das dez da noite. Resolvemos tomar um táxi para seguirmos para nossas casas, ela morava no mesmo bairro meu, duas ruas depois da minha. Demoramos um bocado para conseguirmos um táxi, mas emfim embarcamos no veículo e seguimos para o nosso destino. Aconteceu de um raio atingir o parabrisa do carro, o que fez com que o motorista perdesse a direção e colidisse com outro veículo. A batida foi violenta e justamente do lado onde estava Paola, que ficou bastante machucada. Sofri algumas escoriações e meus ferimentos não foram tão graves, já minha amiga teve que ser internada às pressas onde permaneceu em coma em um hospital da cidade. Depois de alguns dias ela veio a falecer, o que muito me entristeceu.

 

Fazia exatamente vinte e sete anos que Paola havia deixado este plano, eu estava justamente pensando nela, naqueles momentos alegres que passamos juntos, pensava nos nossos sonhos quando terminássemos o curso de Arquitetura e tudo isso foi por água abaixo para ela. Eu terminei o curso e consegui um bom emprego, mas mesmo assim uma imensa tristeza resolveu morar no meu coração. Pensei nela e ela apareceu, sorridente, aquele mesmo corpo, com aquela mesma alegria, o mesmo semblante de quando éramos amigos. Eu nem conseguia acreditar no que via. Será que estava vendo mesmo Paola? Ela falou comigo, me cumprimentou, mas eu não conseguia dizer nada, nem sorria, nem cheguei a tocar suas mãos. Eu só via a sua imagem que aos poucos foi se dissipando como fumaça. Me levantei e segui para casa.

 

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 03/03/2023
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