MAYSA, MAYSA…
Sentado estava, sentado fiquei...
… quando ela entrou devagar num vestido branco e longo. Usava um colar de pérolas que dava três voltas em seu – mais que perfeito – pescoço. Não fiquei pensando se aquilo era fruto de uma mente insone (beirando a loucura) ou se ela estava mesmo presente. Maysa fez uma reverência meio esnobe, sorrindo aquele famoso e meio cínico sorriso, cheio de malícia, mas doce como mel… mel mergulhado em uísque. Segurava um copo, como não poderia deixar de ser e o barulho do gelo se chocava e tilintava. Apesar do mau cheiro da bebida, tudo se misturava com seu perfume e entorpecia… acariciava o ambiente. Ela não abandonara seu vício… “O meu amor por você, é imenso…” e o seu vício era o amor. Cantava, cantava, cantava… e eu não piscava por um segundo sequer. As lágrimas de emoção deslizavam aos montes a maçã do minha face, molhando meus braços cruzados, serrados por uma emoção nervosa (como se eu fosse morrer com aquilo tudo). “sei que você me entendeu… Sei também que não vai se importar… Se meu mundo caiu… Eu que aprenda…”. Não consegui mais resistir e fechei os olhos com força. Lágrimas saindo dos cantos. Quando abri novamente, tudo voltara ao normal e o cheiro ruim de uísque também se foi. Mas a diva sumira junto com ele, e um silêncio triste e intenso se fez. No dia seguinte comemorei por dentro mais um contato com o mundo dos meus ídolos mortos. Uma nova visita ao quarto escuro, nos campos escuros do meu pensamento; Onde há um altar… lá ao longe… Com um imenso jardim em sua volta: De lá desabrocha Maysa. “Quem quiser encontrar o amor… vai ter que sofrer, vai ter que chorar... Vai ter que esperar.”