SAUL E ELZA - UM DIVINO AMOR
A brisa entrava silenciosa e agradavelmente pela janela entreaberta, trazia com ela o cheiro das flores do jardim ali fora existente naquele imenso e antigo sobrado, reinava um silêncio que impressionava, visto que dias antes um vozerio quase ensurdecedor ali se instalara. Nessa mesma sala agora mergulhada na mais tranqüila calma alguém ali repousava, triste e demonstrando uma certa inquietação. Alguém especial havia partido inesperadamente e a notícia lhe partira o coração, essa partida com toda certeza não teria volta. Ali naquela sala estava Elza, uma jovem de apenas vinte anos, sonhadora, calma, educada e prestes a um casamento com um rapaz de posses, filho de um fazendeiro da região. Havia chorado a noite toda, o dia amanheceu e ela nem café tomou. Apenas beliscou no almoço e agora no adiantar da tarde ali estava em um sofá a remoer os problemas que nessa hora recaíam sobre ela. Vez ou outra uma lágrima caía-lhe dos olhos, estava completamente perdida em pensamentos.
Voltemos alguns dias para que o texto acima seja compreendido. Elza estava sorridente aguardando Saul chegar, seus pais estavam satisfeitos com o futuro da filha, se casaria nos próximos dias com o filho de um grande amigo e fazendeiro como ele que morava naquela mesma região. Tudo fôra programado com o maior esmero, Saul era do agrado da família e era um homem voltado para o bem. Nesse momento de grande alegria um empregado da fazenda do pai de Saul entra apressado depois de apear o cavalo na entrada, estava visivelmente transtornado e isso deixou todos preocupados. Ele chegou com a incubência de informar a familia de Elza que o rapaz havia sido vítima de uma queda do cavalo que cavalgava e havia batido a cabeça numa pedra vindo a falecer no local. O aperreio foi grande, Elza gritou desesperada e todos ficaram bastante traumatizados com a ocorrência.
No dia seguinte o féretro foi providenciado com a presença das famílias, Elza não cabia em si de tanta tristeza e parecia não acreditar no que estava acontecendo. Após o sepultamento de Saul, já ao anoitecer, a moça não se conteve e não parou de chorar. Nessa noite ela não dormiu e nem na noite seguinte e possivelmente não agüentaria tamanha dor em seu peito.
Voltando ao ponto onde paramos nos deparamos com Elza triste, sozinha, na sala de sua casa, olhando para o nada e pensando naquele que seria o seu marido, um marido exemplar, porém o destino não quis. Enfrentando essa imensa dor ela pediu para vê-lo uma única vez para guardar essa lembrança pela vida toda. Não esperava que isso acontecesse, mas ela foi atendida. Uma névoa envolveu ela e assim como o vento entrava suavemente pela janela Elza viu uma imagem que se assemelhava ao homem da sua vida. Como se atravessasse a janela ele veio ao seu encontro e a abraçou. Ela sentiu esse abraço, teve essa nítida impressão, até o seu perfume entrou junto com a brisa refrescante e ela o sentiu. Caiu em prantos e desejou esse momento nunca ter fim.
Os dias se passaram rapidamente e Elza ganhou um pouco de alegria, começou a se alimentar bem, mostrar um pouco do seu sorriso, mas preferia ficar ali na sala na maior parte do seu tempo, quando questionada por isso ela simplesmente dizia que estava com Saul e não queria ser incomodada. Os pais tiveram a certeza de que Elza não estava bem do juízo, mas acabaram aceitando essa forma dela ser feliz.