OS QUATRO UNIVERSOS E A BUSCA DA SABEDORIA.
Randolf estacionou e saiu furioso do carro. -"Saiam da frente da minha casa. Vou chamar a polícia." Os três homens deixaram as tampas da lixeira. -"Está bem, estamos saindo." Um deles, mais velho, se aproximou. Cabeludo, barbudo, tinha o olho verde como esmeralda. Descalço, dava pra ver as feridas nos pés. Randolf tremeu ao notar o porte físico daquele andarilho. Vou levar uma surra, pensou. Uma voz mansa e agradável saiu da boca daquele homem miserável. -"Perdão se o atrapalhamos. Nos perdemos e paramos aqui. Você está no ponto mais baixo dos quatro mundos. Até mais." Randolf riu, olhando em volta para alguns vizinhos curiosos. -"Ei, Mahatma Gandhi. Não venha me dar lição, não. Você está na escala mais baixa da sociedade e não eu. Não eu, Randolf Von Faradad, dono da rede Faradad de eletrônicos." Os três homens dobraram a esquina do bairro de alto padrão de Dallas. Randolf viu a esposa, Cassidy, na porta com o filho de três anos. -"Querida, cheguei." Ele entrou, sorridente. -"Que aconteceu?" Ele pegou um copo de água gelada. -"Nada de importante. Três pés rapados mexiam na lixeira, emporcalharam o jardim. Nada de mais. Combinamos de jantar mais cedo e assistir A Casa de Papel." Ele brincou muito com Fred, montando um quebra cabeças no tapete da sala. -"Já ouviu falar dos quatro mundos, querida?!" Cassidy era formada em psicologia e sociologia. -"Não. Assim tão vago?! Teria que ser mais específico, Ran." Ele disfarçou. -"Peter, o da contabilidade. Veio com essa hoje. Ele está estudando sobre isso, deve ser tese." Mentiu. Continuou a brincar com o filho. -"O que aquele mendigo quis dizer?!?" Pensou. O que significava estar no ponto mais baixo dos quatro mundos e que mundos seriam esses?! A frase martelava sua cabeça. No outro dia, no trabalho, não conseguiu se concentrar. Estava aéreo e acabou com metade da garrafa de café. Uma semana depois. -"Que foi, Randolf. Está magro, vermelho. Procura um médico. Aqui está o laudo que me pediu. Viajamos amanhã pra Tampa, vamos comprar o Mustang." Randolf sorriu. -"Vamos sim, Erick. O Mustang é nosso. Obrigado pelo laudo." Correu para o espelho. Não estava magro, era coisa da cabeça de Erick, um brincalhão. A porta abriu. -"Sai daqui, cara. Sai." O estagiário assustado pediu desculpas. -"Perdão, senhor." Randolf correu pelo escritório. -"Desculpa, Moss. Achei que era outra pessoa. Foi mal." O rapaz o desculpou. -"Tudo bem. Eu deveria ter batido." No dia seguinte, Randolf foi até o RH. -"Josh. O estagiário Moss. Também o Greg, outro estagiário. Quero que promova-os a assistentes de almoxarifado. Contrate outros estagiários. Josh mostrou os cartões dos estagiários. -"Farei isso. Terei mesmo de contratar outros estagiários pois Moss e Greg pediram demissão." Randolf bateu na mesa. -"Está bem. O que não tem remédio, remediado está." Sentou-se no seu escritório e sentou-se mal. A porta abriu. -"Vamos pra Tampa, esqueceu?! Randolf, o Moss e o Greg carregavam o escritório nas costas. A Johnson já os contratou, sabia?! Cara, que mancada. Randolf!!! O caminhão." Randolf estava dormindo na auto estrada. Erick puxou o volante antes da colisão. -"Vamos parar, estamos dirigindo há horas." A noite caiu Erick, dirigindo enquanto Randolf dormia no banco do passageiro, parou num restaurante a beira da estrada. -"Lascou, o homem apagou." Erick carregou o amigo até um chalé, ali perto. -"Vai dormir, Branca de Neve. Seu mal é sono." Erick tirou as roupas de Randolf. O outro começou a babar e falar palavras desconexas. -"Tiferet.... Tiferet....os quatro mundos. Sefirot...sefirot...kabalah." Erick riu. -"Agora tá ficando louco. Tá falando com os antigos. Olha que não bebeu nenhuma latinha." Erick tomou um banho e, após o lanche, deitou -se na cama ao lado. -"Obrigado, Senhor. Por esse ventilador, senão isso seria uma sauna." Cansado, adormeceu. Randolf roncava. -"Vai morrer, maldito. Pelas minhas mãos." Erick sonhava que alguém o sufocava. Ele tentou se virar, em vão. -"Pare. Vou morrer ." Abriu os olhos e viu Randolf sobre ele, o esganando. -"Ran?!" Erick estava roxo, sem ar. Os braços cansados. Ainda encontrou forças e colocou o joelho direito na barriga do amigo furioso. -"Morra, infeliz." Gritou Randolf, irado. Erick o socou mas o outro nem se mexeu. Erick o jogou no chão. -"Ran?! O que..." Randolf se jogou contra ele. Erick o dominou. Randolf tinha uma força descomunal. O dono e dois funcionários da pousada vieram e dominaram Randolf. Amarrado a cama, Randolf espumava. Parecia aéreo a tudo. -"Chame os paramédicos, esse cara surtou." Erick ligou para a esposa de Randolf e explicou a situação. -"Cassidy, Ran estava dominado por um espírito, sei lá. Estou todo arranhado. Vou para o hospital e lhe mando novidades." Erick acompanhou Randolf, na ambulância. O rapaz foi para o quarto, onde uma equipe médica o avaliou. Erick, na recepção, aguardava notícias. -"Teremos que sedá-lo pois está agitado e delirando. Será melhor." Disse o enfermeiro, acalmando Erick. -"Não. Eu joguei pedra na cruz, só pode. O que você está fazendo aqui?!" Randolf fechou os olhos. -"Não quero falar com você. Desapareça." Tempo depois, Randolf olhou em volta. -"Fugiu, né?! Não quer falar sobre os quatro mundos?! Porquê estou nessa mesa de hospital?" Ei, mendigo. Cadê você?" Randolf olhou em volta. Estava em sua casa e saiu. Lá estava ele, perto da lixeira. -"Aí está o sabe tudo, o Mahatma." O homem sorriu e veio ao encontro de Randolf. -"Não estava no hospital, Randolf?! Está aqui fora agora. A rua está silenciosa, percebeu?!" Randolf concordou. -"O que são os quatro mundos?" O outro riu. -"Quer mesmo saber? Aliás, me chame de Salomon." Randolf estava ansioso. -" Ansiedade, estresse, trabalho... isso mata, Rand. Não é assim que te chamam? Terra, água, fogo e ar. Os quatro elementos. Os quatro mundos: físico, emocional, intelectual e espiritual." Randolf riu. -"Era isso?" Abaixou a cabeça pois era fato que estava fraco nesses quatro níveis. -"Você está se avaliando, Ran. Ei, isso é bom. Estava correndo muito, muito. Você estava num ritmo atribulado, sem freio. Estava numa corrida e você passou voando por Senna, Prost, Schumacher e Hamilton numa só volta , cara. Estava turbinado e sem freio. Mas, quando corremos sem freio você sabe onde vamos parar, não?! Você parou e surtou. Esses são os quatro níveis do ser. Tiferet é o ponto mais baixo entre esses mundos na Árvore da Vida. -"Eu balbuciei Tiferet?!" Salomon riu. -"Esses níveis estão dentro de cada um. É possível observar nos processos evolutivos, criativos e nas relações humanas plenas. Entendeu?!" Randolf meneou a cabeça, negando. -"Um caso de amor, por exemplo. O será caso existam em espírito, cabeça, coração e corpo, tornando -se pleno e equilibrado. A predominância ou ausência de um ou outro nível, o anula instantâneamente. Quando os quatro níveis se ajustam e se equilibram, há o milagre. No caso o amor. No espírito, a árvore da vida encontra seu estado mais puro e sublime. O Reino das Emanações porquê sua luz está mais próxima a Luz infinita, sendo todos nós irradiações desta. A divindade, o Absoluto. Experiências místicas são indescritíveis, sendo poucas as linguagens adequadas a ilustrá-las. Explicar tamanha beleza do mundo espiritual seria o mesmo que tentar explicar a teoria da relatividade de Einstein a um camundongo. É inatingível desse ponto de vista. Nosso mundo é o mundo das formas, o físico. Tampouco estamos separados do mundo espiritual, visto que mundos superiores o penetram e aqui interagem. Um gato é um gato mas sua concepção de gato vem da idéia de que é gato para preencher uma necessidade cósmica. Assim, um gato é todos os gatos pois todos são cópias de um só. Um impulso criativo no mundo espiritual se manifesta na forma de filhote e depois, gato adulto. No reino natural, fauna e flora estão num ciclo de permanente mutação. Acima da natureza, o planeta. Sol, planetas, o Cosmos. A via Láctea e outras galáxias. Dois homens olharam pela janela da prisão, um viu a lama, o outro as estrelas. Olhamos a matéria, o físico mas a magnitude do universo em comparação com nossa galáxia, nos coloca frente ao mundo dos universos superiores. Precisamos adquirir sabedoria e consciência desses reinos superiores para irmos além do corpo físico, organizando energias, substâncias de um novo ser pois somos mais que o físico, não somos só matéria. Viemos de um protótipo original, de uma idéia. Isso leva tempo e trabalho, conhecimento e prática. Podemos evoluir, gradualmente. Podemos nos elevar acima dos anjos e arcanjos até, que, embora participem a hierarquia de um mundo superior de inteligência elevada, permanecem fixos nos seus papéis e funções no Cosmos. Apenas o homem é capaz de ultrapassar os francos da Árvore da Vida e elevar-se. É preciso discernimento e coragem, meu caro. O homem sábio desvia de sua rota apenas pra ajustar as velas, em situações que não controla e obstáculos mas retorna mais sábio, com aprendizagem. Existe um elemento emocional no trabalho. Apenas homens inferiores trabalham só por dinheiro e ambição pessoal. Alguma coisa nos impulsiona. Do contrário, será um grosso, um carreirista sem escrúpulos. Poucos homens adultos serão mestres pois nem todos adquiriram a riqueza da experiência, o valor que ultrapassa os bens materiais. Com a velhice chegando, somos mais toleráveis, bondosos. Não temos a mesma garra e força de um jovem mas aprendemos a aliviar as pressões devido a visão ampla que nos dá a certeza do melhor método. Ford, Rockfeller, Bill Gates se tornaram filantropos e benevolentes a partir da meia idade. A vida é um palco e a vida do homem é um papel a se desempenhado. É um segundo nascimento, pelo qual todos passaremos. A partir dele, o dinheiro e o status não são mais fundamentais. Não há egos pois suas atitudes não são desse mundo.(continua).