As lágrimas da Profa. Maria de Fátima e o médico cirurgião

 

 

Era o mês de fevereiro de 1985, na sala de aula, a professora Maria de Fátima recebe uma Notificação da Prefeitura Municipal de Codó, Estado do Maranhão, conforme conteúdo com a realização da leitura, a professora arrumou seus livros e documentos da gaveta, e saiu da sala de aula com os olhos vermelhos e cheios de lágrimas.

 

Com o rosto liso e repleto de vibrações, os cabelos negros e perdidos naquela magia de lamentações, mergulhavam na mais profunda inquietação da alma. Andando pelas ruas da cidade de cabeça baixa, sem ânimo, flutuava a desesperança em cada passo. E, assim, a nova desempregada não sabia como viver naqueles instantes agonizantes, não restando outra alternativa na dolorosa passagem de vida. De repente, naquela rua, ía passando pelo bairro pobre da cidade, um garoto de 16 anos, e ver a professora e chama:

 

-Ei professora Maria de Fátima! Aqui é o Fernando, seu ex-aluno. Quero muito falar com a senhora.

 

Sem dar importância, a professora responde:

 

-Agora, eu não posso atender. Desculpa-me.

 

O rapaz insistiu, inquirindo:

 

-Ei professora Maria de Fátima, aqui é o Fernando. Desde ontem eu não consigo falar com a senhora. Eu já passei em sua casa e não encontrei a senhora. Aqui está uma lembrança que meus pais enviaram para a senhora.

 

A professra nervosa e pranteando diz:

 

-Vá em minha casa outro dia, Fernando. Hoje, eu não posso lhe atender.

 

Fernando perseverou, dizendo:

 

- Professora, é que eu vou para São Paulo hoje. Eu vou fazer vestibular para medicina como eu havia lhe falado antes. Eu pretendo realizar seu desejo em me ver médico. Eu tenho saudades das suas aulas debaixo do pé de babaçu. Receba mestra, é um presente meu dado por meus pais.

 

Ao se aproximar da professora, o garoto exclama:

 

- A senhora está chorando professora? O que fizeram com você?  Eu quero resolver isso, antes de partir para São Paulo. Não chore! Por favor, me diga?

 

Ela respondeu:

 

-Não. Não. Eu não posso.

 

A professora agarrou o garoto no meio da rua e chorou em seu ombro por longas horas, sem falar os motivos da aflição.

 

-Suas lembranças vão ficar marcadas no meu ombro molhado com suas lágrimas neste péssimo dia.  Que Virgem Maria lhe proteja com seu manto sagrado. Não chore! Assim, eu vou chorar também, sentindo estas aflições caírem em mim, sem ao menos eu saber o que foi. Professora, eu nunca vou esquecer de você. Vou para São Paulo trabalhar e estudar. Meu pai não tem condições de me dar o que eu preciso. A prefeitura de Codó só paga um salário e minha mãe continua lavando roupa para os ricos da cidade, sem ganhar quase nada. Ela também não tem condições. Não chore minha professora.  Não chore.

 

Ao chegar em sua casa, Maria de Fátima deitou-se e dormiu.

 

Ao amanhecer, a professora acordou e se preparou para dar aulas. Antes de sair, olhou as anotações e viu novamente a notificação demissional da prefeitura, motivo pelo qual a professora entrou, fechou as portas e janelas, e chorou no sofá, e ali dormiu.

 

No dia seguinte, a professora Maria de Fátima abre a janela com acesso a rua, observa o dia diferente, as horas demoradas e as pessoas ocupadas. Um pé de jardineira abriu sua corola cor de rosa em direção à professora, atenuando as frustações, momento em que a professora olha em sua volta e profere que vai fazer um colégio particular em sua casa com o nome de um ex aluno.

 

Após isso, o colégio particular é inaugurado, todas as cadeiras foram pagas com o dinheiro enrolado num presente e entregue por Fernando, antes de sua partida. A professora agradeceu em uma carta aos pais de Fernando, dizendo que em breve a família tem um médico em casa – Dr. Fernando.  Muito obrigada.

 

Os anos se passaram, e no ano de 1994, com o colégio em casa repleto de alunos, uma pessoa bate na porta e entra, dizendo:

 

-Bom dia. Eu quero falar com a senhora Maria de Fátima. Eu sou oficial de Justiça, e estou com a Execução Fiscal deste imóvel e suas terras agregadas. Eu penhorarei esta casa e terreno. A senhora Maria de Fátima tem até 30 dias para embargar a penhora. Caso não embargue, o bem penhorado vai o leilão.

 

Maria de Fátima intranquila, diz o seguinte:

 

-Moço, deve está havendo algum erro. Esse imóvel passou para o meu nome agora. Como pode o senhor penhorar?

 

O Oficial de Justiça diz o seguinte:

 

-Consta, porém, que os proprietários anteriores deixaram um débito de IPTU e jamais pagaram na Justiça. Agora a prefeitura está reivindicando o cumprimento da penhora patrimonial.

 

Sem nada entender, na presença dos alunos, ela diz:

 

-Isso não é verdade. Esta casa não pode ir para o leilão, moço.

 

O oficial de Justiça, diz:

 

-Eu vou deixar a contrafé com a senhora e seu prazo começa a correr com a juntada nos autos. Lamento. Eu não posso fazer nada. Até logo.

 

Em uma grande confusão e deus-nos-acuda, não houve mais aula, duas alunas observando o estado emocional da professora, estas foram à cozinha fazer uma água com acúçar para a professora Maria de Fátima. E naquele exato período, uma pessoa bate na porta insistemente.

 

Aurea estava bem próximo da porta, atendeu.

 

-Bom dia!

 

Disse o senhor na porta do colégio. Rapidamente, Aurea complementa:

 

-Bom dia! Moço, o que o senhor deseja? Por favor! Não venha mais aqui cobrar a professora. Ela não está bem por causa de sua casa que vai para o lelão. Não venha mais aqui. Eu lhe peço por tudo o que é sagrado.

 

O senhor contrapôs:

 

-Eu não entendo por que você me diz isso. Eu venho de São Paulo. Quero falar com a professora Maria de Fátima, é apenas isso.

 

-Ela não pode atender, ela está chorando muito. A prefeitura está leiloando a sua casa e terreno. Não insista moço. Vá embora, por favor!

 

O moço disse:

 

Tudo bem, eu não quero incomodar, você falou a origem do débito. Muito obrigado

 

Os dias passam, em certa manhã do ano de 1994, o senhor bate novamente na porta da Escola Particular Dr. Fernando.

 

-Bom dia professora Maria de Fátima.

 

A professora responde:

 

- Bom dia. Meu Deus! É você Fernando, meu ex aluno, meu primeiro aluno particular. Veja o seu presente aqui na sala, espalhados em carteiras escolares e material ditático. Aquele presente veio em uma hora muito boa. Eu peço desculpas a você naquele dia. Pois, eu fui demitida sem nenhum problema na secretaria de educação. Depois, eu soube que a secretária de educação de Codó, deu o meu cargo de professora graduada em pedagogia para a sua prima Fernanda que apenas sabe ler e escrever. Está tudo explicado os motivos.

 

-Verdade. Eu vejo tudo isso aqui. O problema é que o Brasil vive ainda este tipo anormalidade nos quadros funcionais. Eu vim trazer para a senhora o meu cartão de visita. Agora a professora tem um ex aluno que é médico cirurgião – Dr. Fernando.

 

-Meu Deus! Como pode ser isso! Um jovem tão novo! Eu fico feliz em saber desta notícia especial. Eu sempre sonhei em você ser médico, saindo do interior do Maranhão, largando tudo para ajudar seus pais.  A escola fica orgulhosa e toda briosa com o seu ex aluno, agora Médico. Veja o nome da escola – Escola Particular Dr. Fernando. É no seu nome. É a única homenagem que podemos oferecer como resposta ao menino do sertão, pobre e que estudava debaixo do pé de babaçu. Foi para a maior capital do Brasil (São Paulo) e venceu, hoje é médico querido por onde passa.

 

Uma aluna, chamada Fabiany disse:

 

-Ei professora! Ele está chorando.

 

Outro aluno, conhecido como Ricardo falou:

 

-Não chore Dr. Fernando. Você é a nossa esperança e o nosso espelho nesta luta. Todos nós estamos orgulhosos do menino codoense em ter se formado em médico cirurgião em São Paulo – Dr. Fernando.

 

Abraçando sua ex-professora, Fernando disse:

 

-Professora não quero vê-la mais chorando. Aqui está o pagamento do seu IPTU devidamente pago e livre do leilão. Como oferta do seu ex aluno, escolha entre um carro ou motocicleta para comprar. Agora, eu tenho condições. Eu quero que a senhora transforme seu colégio em uma grande escola. Eu estou aqui para ajudar em tudo.

 

-Obrigada. Deus é perfeito e faz tudo com sabedoria e bom senso. Dr. Fernando, nosso médico cirurgião.

 

 

 

 

ERASMO SHALLKYTTON
Enviado por ERASMO SHALLKYTTON em 26/12/2022
Reeditado em 26/12/2022
Código do texto: T7679777
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