Terrível jornada ao Lixão de Bangu
No mês de fevereiro de 2013, o Sr. Raimundo Magalhães, havia vendido todos os seus bens na cidade onde residia, Angical do Piauí, um pequeno município do Estado do Piauí. A sua localização é simples, pois, está na Microrregião do Médio Parnaíba e mergulhada na mesorregião do Cetro-Norte Piauiense com uma área de 223 km²e sua população tem como estimada em 2013 em 5.200 habitantes. Como se sabe, Angical do Piauí, detém um posicionamento geográfico muitíssimo bom na região central do Médio Parnaíba nos períodos festivos da Angilofolia e Angical Fest, Aniversário da cidade, Carnaval e demais festejos. Sua atividade principal é o comércio, agricultura e pesca.
Raimundo Magalhães, com 45 anos de idade, é comerciante, tendo seu armazém ao lado de sua residência, com o nome de “O popular Raimundo Secos e Molhados”, sendo casado com Matilde dos Reis, com 3 (três) filhos, José com 18 anos, Mario com 16 anos e Fábio com 13 anos de idade.
Após a apuração do dinheiro das vendas, totalizando a soma de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais), Raimundo comprou 5 (cinco) bilhetes de passagem rodoviário para o Rio de Janeiro. É certo que Raimundo e família já havia concordado em morar na cidade maravilhosa, após contato com um primo de sua esposa que mora em Bangu, na zona Oeste do Rio de Janeiro, na favela de Vila Aliança.
Em março daquele ano, eles chegaram na Rodoviária Novo Rio, e que hoje é apenas Rodoviária Rio de Janeiro, desceram do ônibus, e Matilde olhou para os lados para ver o primo que aguardava. Sem informações a respeito do primo, eles ficaram mais de 4 horas no local. Logo, chegou um segurança e disse que o local não é de passageiros. Raimundo se identificou e falou que estava aguardando ver o primo de sua esposa que mora na Vila Aliança em Bangu. O guarda informou que o coletivo que vai para Bangu é do outro lado no cais do porto. E que eles teriam que sair da estação rodoviária e pegar o ônibus para Bangu.
As horas passavam apressadas e já contava mais de 22 horas daquele dia. Sentados na bagagem e não havendo mais nenhum passageiro, Fábio adormeceu entre as malas. De repente, um gol para mais à frente e dar marcha a ré. Oportunidade em que dois indivíduos descem armados do carro e diz que é um assalto.
Um dos bandidos diz:
-Assalto babaca. Passa o dinheiro paraíba?
Nervoso, Raimundo diz:
-Eu não tenho dinheiro. Sou trabalhador no Piauí. Por favor nos deixe em paz.
O bandido apontando a arma, diz:
-Entrega o dinheiro otário, ou eu atiro nesses trouxas.
-Por favor, não faça isso. O dinheiro está na mala vermelha.
Um dos bandidos indagou.
-E quanto tem lá?
-45.000,00
Sem demora, os assaltantes abriram a mala e pegaram no saco de dinheiro e partiram. A esposa e filhos ficaram chorando, quando uma viatura do centro da cidade para o veículo:
-Polícia, todos em pé na parede com as mãos para trás.
-Moço, não somos daqui. Fomos assaltados ainda pouco e levaram meu dinheiro todo.
O outro policial disse:
- Não queremos saber de sua história. Onde está a droga? Se não disser, vou levar todos presos.
Ao se aproximar do menor Fábio, o policial chutou com força brutal as pernas, dizendo:
-Levanta babacao! Abre as pernas, porra. Abre as pernas e põe as mãos atrás da cabeça. Onde estás as trouxinhas? Revista todos, Sargento Andrade, inclusive as malas e bolsas.
O outro policial falou:
-Estar pensando que somos bobos para acreditar na conversa tua, tio? Mostra onde está a diamba do Piauí? Abre as pernas, caralho.
Após insultos, os carros, motocicletas, ônibus e caminhões que passavam no Cais do Porto, observavam a atuação da polícia. Sem nada encontrar nas malas, os policiais foram embora. A tristeza e a falta de assistência da polícia deixaram mais assustados os piauienses que nada fizeram. Juntos, eles permaneceram até o dia clarear na sombra de umas marquises do cais do porto.
Às 7 horas daquela manhã, um rapaz que aguardava um ônibus para Bangu, se comove com a situação contada por Raimundo Magalhães e seus filhos, pagando a passagem do coletivo até a Vila Aliança em Bangu.
Ao chegarem no bairro Vila Aliança, Matilde olha a agenda e observa o endereço do primo, rumando os cinco em direção da residência do mesmo com as malas na mão. Ao chegar na casa é bem recebido pelo primo Clóvis e esposa. Apesar de fazerem 02 B.O, Raimundo pergunta pelo serviço e Clóvis diz que foi mandado embora do serviço do hospital municipal Albert Schweitzer na qual fazia faxina.
Raimundo diz:
-Não se preocupe, nós dormimos em qualquer lugar. E quanto ao serviço, estou disposto até a limpar rua ou fossa. Não se preocupe. O que eu perdi, eu posso recuperar novamente.
Clóvis articula:
-Amanhã, eu vou no Aterro Sanitário de Bangu, que é o aterro de Gericinó, localizado na Estrada de Gericinó ao lado da favela Tirici, pois somos vizinhos do presídio. Lá é bom por que sabemos o preço da venda de terreno para você construir sua casa.
Raimundo Magalhães profere:
-Muito bom. Se você me emprestar o dinheiro eu pago com juros, e também podemos ver a situação de serviços. Afinal, somos cinco forças de trabalho. Se não me falha a memória, esse lixão de Gericinó, em Bangu, na zona Oeste do Rio onde passou na TV uma gravação da novela “Da cor do pecado”, e que a atriz Giovanna Antonelli conheceu a vida de Cris Andrade trabalhando no lixão.
Ao chegarem no Lixão de Bangu, eles procuram o endereço do chefe que vende os terrenos na favela Tirici, informados como encontrá-lo, Clóvis se dirige a um catador, e indaga:
-Como vai o senhor? Sabe me dizer se tem vaga para uma família aqui?
O catador responde:
-Tudo bem. Não posso ofertar nada. Mas aqui temos mais de trezentas pessoas que vivem do lixão. Reciclar os materiais é a nossa vida. Quando vocês querem começar o trabalho? Aqui nós separamos o vidro, papel, papelão e produtos diversos dia e noite. As carretas da Comlurb quando entram no portão, tem que acompanhar para ver onde vão jogar o lixo já separados das casas, e depois é só conferir e separar.
Clóvis diz:
-Vamos começar amanhã com seis pessoas. Eu, o Sr. Raimundo, seus três filhos e esposa.
O catador fala:
-Isso é muito bom. Mas por favor não fale para ninguém que eu arrumei trabalho para vocês.
-Tudo bem, eu compreendo.
O catador ainda complementa:
-Aqui trabalhamos calados e não podemos dizer nada. O pessoal da favela do Catiri, usa esse aterro sanitário para despejar os corpos de suas vítimas. De quinta-feira para domingo à noite nós topamos com os cadáveres jogados nos montes de lixo. Alguns cadáveres vêm enrolado em cobertor, e foi descoberto quando abrimos vários resíduos de lixo e uma parte do cobertor abriu e uma parte do corpo apareceu. Aqui é a baixada fluminense, onde os tiros saem sem direção, principalmente à noite. A gente só ver essa meninada de 15 anos a 20 anos morrendo pela polícia e bandidos. E o presídio de Bangu fica bem aí do lado, basta subir na montanha de lixo para ver.
Clóvis explicou tudo para o senhor Raimundo Magalhães. E, no outro dia bem cedo, os seis novos catadores de lixo já estavam nas montanhas de lixo, dividindo com as carretas da Comlurb e os urubus, baratas, ratos e doenças. José conversa com seu irmão Mário, o seguinte:
-Poxa Mário, esse lugar deveria ser bem cuidado, porque o principal aqui é o meio ambiente. Pois, o acúmulo de chorume e o vazamento para o solo, é uma realidade com o mau cheiro.
Mário complementa, afirmando:
-Verdade, mano! Aqui deveria ter uma estação de tratamento de chorume, evitando encher a lagoa de chorume.
José afirma ao jovem Mário;
-Mano, eu vejo lá no fundo caçambas e tratores. Eles devem estar trabalhando na futura estação. A minha professora colocou na prova para nós estudar sobre a Política Nacional de Resíduos Sólidos da Lei nº 12.305/2010. Você não se lembra que passou no jornal? Pois, o Estado brasileiro meteu várias ações públicas de combate ao destino impróprio do lixo domiciliar entre outros resíduos. E o governo Federal deu prazo para todos os lixões do Brasil exterminar com essa brincadeira de fazer nas cidades brasileiras o lugar dos lixões.
Mario diz:
-Sim. Eu apenas ouvi falar. Nosso trabalho aqui é reciclar o lixo antes dele ir para a lagoa de chorume. Podemos ganhar uma grana boa aqui. Separando o alumínio, ferro, o cobre, o papel e o papelão dos alimentos quem vem no lixo.
José diz:
-Mario, minha vontade é fazer uma cooperativa de reciclagem. Assim, podemos ganhar mais e nem mesmo trabalhar. Estamos longe do nosso Piauí. Agora somos trabalhadores, quer dizer catadores das sobras e rejeitos. O governo ou as entidades privadas deveriam dar um curso para nós sobre reciclagem. Afinal, nós vamos trabalhar aqui por nossa conta, sem carteira assinada e sem patrão. Sabe mano, eu imagino o papai e mamãe na idade em que estão?
Mario afirma:
-José, o governo só sabe é falar em questão social e ambiental, porém, não toma a frente da situação dos direitos humanos. Onde o governo vai colocar os 300 catadores do lixão de Gericinó? Esse pessoal vive do lixão há muitos anos. Esse povo sobrevive do lixão. Não há outra alternativa para eles ou nós. Eu sei que trabalhamos na informalidade, serviço insalubre, sem carteira assinada e sem INSS. Aqui se trabalha e não tem referência e tão pouco uma gestão para brigar com os preços. Imagine, aqui virando uma estação de tratamento do lixo. Como vão viver esse contingente de trabalhadores sem renda? Eu sei que somos pobres, fomos assaltados no Rio de Janeiro com R$ 45.000,00. E você sabe que família pobre é distante do governo, não dispõe de recursos e meios.
José diz:
-Eu imagino os catadores e catadoras que vieram do ex- Lixão de Gramacho e estão aqui na mesma bandeira nossa. Eu só sei que é a forma mais perversa para nós ser catadores no Lixão, viver nessa labuta injusta e cruel com o que não presta. Mas é o jeito. Ninguém emprega mais o papai e mamãe. Nós jovens podemos aventurar nas ruas, abrindo valas e limpando fossas, mesmo sabendo dessas impurezas. Se houver condições, vou terminar o meu ensino fundamental e fazer uma cooperativa para concorrer com os outros desse lugar.
Os anos se passaram céleres, e o governo municipal do Rio de Janeiro, inaugurou o Aterro Sanitário de Gericinó – Lixão de Bangu. José, filho de Raimundo Magalhães, já tinham residência própria, bem como uma empresa Recicladora onde empregavam cem trabalhadores, seis carretas automáticas de lixo, laboravam com o município e outros interessados. Sabendo-se que a empresa se chamava “Irmãos da Reciclagem Ltda”, cuja empresa compra e venda de material reciclável como: Lixo eletrônico, papel, papelão, sucatas, pneus, plástico, garrafa pet, latas, cobre, ferro, alumínio, aço e etc.
A empresa de José e irmãos fazia o pagamento à vista, e realizava a coleta na cidade de Bangu e demais lugares, sempre respeitando o meio ambiente na coleta do lixo reciclável e pagamento no ato.
Somente assim, José reuniu os irmãos e puderam dar um conforto aos seus pais, inclusive com automóvel zero km na porta de sua casa. Olvidando todas as frustações que se sucederam no Rio de Janeiro – RJ.