DE VOLTA AO PASSADO

 

   Eu abracei Andreza com tanta euforia, com tanto amor, que não estava me reconhendo, sentia que algo estranho estava acontecendo comigo. Nada disso existia antes quando eu a via, quando nos amávamos, era tudo tão natural, tão expontâneo. Mas Andreza era tudo que eu queria, era a razão do meu viver, entre nós era tudo tão simples, tão maravilhoso que as coisas aconteciam dentro de uma normalidade já esperada por nós. Era um momento especial, eu tinha essa percepção, e me vi no direito de aproveitar o máximo possível, não podia perder um segundo sequer. Mas... o que estaria acontecendo comigo? Seria isso tudo real? Meu abraço em Andreza era tão forte que até ela estava estranhando, porém eu não me continha em abraçá-la, em beijá-la, em demonstrar todo o meu amor, em dizer-lhe palavras que antes não ousava, mas que no fundo do meu coração eu desejava.

   Eu tinha conhecido Andreza quando ela era ainda uma adolescente, uma menina com seus dezesseis anos, numa festinha de aniversário de uma amiga nossa, momento em que nossos olhares se cruzaram e nasceu aí o amor. Foi uma paixão a primeira vista, tanto minha quanto dela, união que se perpetuou por muitos anos, até nos casarmos e sermos felizes. Filhos não tivemos e essa união durou até aquele fatídico dia quando o veículo em que viajámos colidiu com outro e acabamos capotando. Tudo escureceu e nada mais vi a não ser um quarto de hospital onde passei alguns dias internado sem de nada lembrar. Aos poucos fui recobrando os sentidos e esperando a minha recuperação para sair dali o mais rápido possível e ver a minha amada. Mas isso não acontecia e me deixava ansioso, o que eu mais queria era ver Andreza, abraçar aquele corpo lindo e beijá-la com ardor. Minha mente, no entanto, não ajudava muito e me fazia ter reflexos da sua presença ali. Foi num desses momentos que ela entrou no quarto sorrindo para mim. Tive um ímpeto inesperado e saltei da cama indo em sua direção. Enfim ela estava em meus braços, estava ali diante de mim, cheia de mimos, sorrindo a toa. Não sei como, mas saímos dali e nos vimos em nosso ninho de amor, em nossa casinha toda arrumadinha, com aqueles móveis rústicos que foram comprados logo no início do nosso casamento. Até estranhei, pois já havíamos trocado os móveis, mas isso agora não importava, eu queria somente me dedicar a Andreza, a minha amada, a minha rainha, a mulher da minha vida. Esse momento era tudo que eu queria, me fez esquecer tudo na vida, até o acidente na estrada. Acidente? Que acidente? Meu Deus, nesse momento minha mente me traiu, não vi mais ninguém ao meu lado. E Andreza, onde estava? Sumiu assim de repente? Fiquei desesperado, confuso, mente aturdida, preocupado e só acalmei quando algumas pessoas que vestiam branco me seguraram e me levaram para um local que eu logo reconheci: aquele quarto de hospital. Voltei a mim assim como uma pessoa acorda de um pesadelo. Estava de volta ao quarto de hospital, sozinho, sem ninguém, sem um familiar, sem um amigo sequer. Caí em prontos, perguntei por Andreza mas ninguém sabia ou não queria responder. E tudo continuou confuso para mim. Os dias se passaram, chorei bastante, as vezes via Andreza adentrar o quarto com aquele sorriso lindo. Eu queria tanto sair dali, abraçá-la novamente, mas não conseguia. Me contentava somente com a sua presença ali próximo a porta. Pelo menos era um consolo.

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 27/11/2022
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