Não quebre meu Chukudu – Conflito M23 e exército DRC

 

 

Todas as noites, os filhos de Evaristo pediam ao pai para contar as histórias das guerras e conflitos envolvendo o seu país, a República Democrática do Congo, em especial a cidade onde moram, Goma.

 

Ressalta-se que a grande família de Evaristo era composta por três irmãos e uma irmã, de filhos, netos e bisnetos, residentes e unidos no mesmo lugarejo da cidade de Goma. Dizia Evaristo aos filhos e demais ouvintes, que o seu pai chamado Sargento Irineu, foi convocado para se alistar na KAR – King’s African Rifles no ano de 1900, Sendo que Winston Churchill não aceitou a entrada de negros no exército do Reino Unido, mas com várias reputações, Churchill ficou calado, aceitando a direção das tropas por oficialato do Reino Unido.

 

Uma das filhas de Evaristo indagou?

 

- Pai, e quem foi Churchill para se negar a cor do africano?

 

Evaristo respondeu:

 

-Ele foi várias coisas, escritor político, estadista da Grã – Betanha, muito conhecido e falado, foi soldado, deputado e primeiro minstro. Apesar de não gostar dos africanos e da cor negra, ele tinha visões sobre comentários racistas. Churchill teve que aceitar inclusão dos africanos para derrotar os japones. Nesse caso, o facismo havia se instalado na Àfrica, e o nazismo crescia sem dimensões. Minha filha, você tem que observar que os africanos foram os grandes vencedores dessa gerra. E o campo de batalha possuia um terreno ruim aos ingleses, além de mosquitos e muitos incetos à noite. Com a vitória da guerra pelos africanos, meu pai nunca recebeu uma condecoração e morreu sem nada receber.

 

Sua filha diz;

 

-É triste tudo isto, meu pai.

 

Passado alguns anos, em 1990, Evaristo, pede aos irmãos e toda a família para evitar contatos com estranhos que cheguam em suas residências, uma vez que a Guerra Civil de Ruanda estava a todo vapor.

 

Como se sabe, Goma é uma cidade no leste da República Democrática do Congo, na margem norte do Lago Quivu, ligada com a cidade ruandesa de Guissehi. Assim, o lago e as duas cidades localizam-se no extremo ocidental do Vale do Rifle. Goma fica a cerca de 15 km a sul da cratera do vulcão Niaragongo, um vulcão ainda ativo.

A mais recente história de Goma está marcada pelo vulcão e pelo Genocídio em Ruanda de 1994, que por sua vez estimulou a Primeira e a Segunda Guerra do Congo.

A capital da província do Goma é Quivu do Norte, étnica e geograficamente similar ao Quivu do Sul (com capital em Bucavu); Logo, as duas províncias são conhecidas por Quivu.

Durante os acontecimentos em Ruanda, toda a família ficava sabendo dos acontecimentos. Ressaltando que uma das filhas indagou:

 

-Papai! E o genocídio de Ruanda?

 

Evaristo ficou calado  e sem voz. E  sua filha perguntou:

 

- Não vai nos contar a verdade? Fale pai! Precisamos saber.

 

Nervoso, Evaristo responde:

 

-Vocês querem saber. Vou falar: O genocídio de Ruanda foi o mais triste de todos os acontecimentos. Desde 1990 que as coisas não andavam bem, mas, a pior foi a matança de toda a população da etnia tutsi em poucos dias e horas. O governo provisório matou mais de 1.000.000 (um milhão) de pessoas inocentes desta etnia.

 

-Um dos filhos pergunta:

 

-Pai, e a outra etnia, quem eram? O que fizeram, Fale.

 

Evaristo respondeu:

 

- Eram da etnia hutus, e após a grande matança desse povo inocente foi bárbara. Entravam nas casas à noite, e atiravam nas crianças ainda dormindo. Velhos e demais casais não eram poupados. O mês sangrento de julho de 1994, é o mês de muitas dores. Sabe-se que os ruandeses vieram todos para a nossa cidade Goma e Bucavu, antigo Zaire. Mais de 15.000.000 (quinze mil) pessoas fugiram da morte. O problema todo é que essas pessoas aguardavam o presidente Juvénal Habyarimana ou Kinani, seu apelido, no aeroporto Internacional de Kigale para matar. E nesse dia 6 de abril foi um dia terrível para a tripulação e o presidente que tiveram suas mortes. Veja, o presidente somente ajudava as pessoas de sua etnia. Falam que o presidente gostava de ajudar os hutus para tomar os governos liderados pela etnia tutsi. Somente no poder ele passou mais de 20 anos.

O filho pergunta:

 

-E a ONU o que fez para intervir ?

 

Evaristo disse:

 

-Nada. Não fez nada. Ficou inerte sem nada a fazer. Não emitiu nada. Ninguém fez nada por Ruanda e Goma. Apenas foi concedido três lugares de acampamentos para os refugiados Kibumba, Katale e Mugumga. O que eu vi passar na rodovia era Cruz Vermelha e Médicos Sem Fronteiras. A situação era difícil, morreram milhares e milhares de refugiados, por doenças e extrema pobreza, sem nada para comer. Em agosto de 1994, em Goma podia-se contar mais de 15.000 (quinze mil) mortos, por fome, cólera, disenteria e outras doenças. Na mesma situação foram os tutsis que fugiam da morte, e agora são os hutus. Milhares e milhares de pessoas fugiam do acrescentamento da Frente Patriótica Ruandesa (FPR), de maioria tutsi, rumo à cidade congolesa de Goma, a oeste de Ruanda. 450.000 refugiados chegaram naqueles dias à cidade e Goma.

 

O filho de Evaristo diz:

 

-Papai, eu fico deprimido com a situação da ONU para intervir na África. Doe-me por dentro tudo ao saber disso.

 

Em um dia de domingo, Evaristo e seus irmãos, reuniram-se para construir três bicicletas de madeiras, conhecidas em Goma como Chukudu. Após a construção dos veículos sobre duas rodas, efetivaram os testes e foram devidamente aprovadas pelos familiares.

Em detrimento, à situação de crise econômica que assola todo o planeta, a família de Evaristo encontrava grandes dificuldades nas resoluções de compra por não ter dinheiro. E a montagem das bicicletas de madeiras foi sem dúvida, a comunhão certeira deste evento.

 

A notícia se espalhou por todo o comércio de Goma em grande velocidade, sendo necessário uma das filhas de Evaristo anotar os pedidos de entregas. De tal modo que as bicicletas carregavam tudo, economizando custo, petróleo e outras despesas, o que facilita no valor e no tempo. Incrivelmente, as bicicletas começavam a laborar às 4:00 da manhã, levando os diversos artigos de venda dos vendedores do mercado de rua de Goma, além de fornecimento de materiais como cimento nas obras.

 

No dia 10 de fevereiro de 2022, às 5:00 horas da manhã, uma camionete de marca Toyota, estacionou no pequeno povoado de Goma, e desceram 08 (oito) homens, 02 (dois) adentraram na primeira residência e os outros impuseram a mesma caçada. Com pontapés, arrebentaram as portas das casas, e sem haver qualquer indagação, chamaram os nomes dos 03(três) irmãos dentre eles o nome do senhor Evaristo.

 

Conforme relato dos filhos de Evaristo, eles se declararam ser do Movimento 23 de Março, o grupo rebelde M23 que mantém batalha como as tropas da República Democrática do Congo – DRC, há vários meses.

Um rebelde determinou que Evaristo fosse para o mato ao lado da estrada vicinal.

Evaristo chorando, ainda disse:

 

-Por favor! Não façam nada comigo.  Eu sou inocente.

 

O rebelde com raiva disse:

 

-Sabemos de tudo. Você e seus irmãos são informantes do DRC, e por isso deve morrer. Assim, deixarás de fazer bicicletas voadoras em Goma. Ajoelha para morrer!

 

Uma multidão de filhos, mulheres, netos e bisnetos gritavam apavorados contra as ações malignas do M23. Com um tiro de arma de artilharia na nuca de Evaristo, o silêncio perpetrou em lágrimas e mais lágrimas.  Outro rebelde do M23 disse:

 

-Nunca mais Evaristo fará bicicleta para ganhar dinheiro e ajudar o DRC.

 

Um dos filhos de Evaristo falou:

 

-Não chore mamãe! Deus é fiel e sabe de tudo.  Não quebre o meu chukudu! Não quebre! È minha única forma de ganhar dinheiro.

 

Os corpos dos três irmãos lançados na beira da estrada simbolizava a resistência dos congoleses, que nada podiam fazer com as lágrimas em cada face.

 

Os jornais anunciavam a retirada após um dia depois que um pacificador da ONU foi morto e outros sete ficaram feridos em combates entre o M23 e as forças congolesas assistidas pela ONU, nada fizeram.

No entanto, essa luta foi uma das mais ferozes da semana desde que a recém-criada brigada de intervenção da ONU partiu para a ofensiva. Ressalta-se que um pacificador tanzaniano foi morto depois que os rebeldes apontaram fogo de artilharia contra sua posição, disse a ONU em comunicado.

Em verdade real, a ONU disse na quinta-feira que também havia estabelecido que havia "relatos consistentes e confiáveis" de tropas ruandesas entrando na República Democrática do Congo para apoiar os rebeldes do M23.

 

No entanto, a ONU diz que seu mandato é apenas proteger os civis e manter a paz com o cessar de fogo, e que ultimamente, vem lutando ao lado do exército Congolês.

 

 

ERASMO SHALLKYTTON
Enviado por ERASMO SHALLKYTTON em 30/10/2022
Reeditado em 30/10/2022
Código do texto: T7638909
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2022. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.