UM AMOR DO OUTRO MUNDO
Luís era um rapaz simples, depois que foi morar em uma nova residência comprada por seus pais, em um bairro afastado do centro da cidade, evitava sair por não conhecer bem o lugar, ficava horas na janela admirando o lugar rodeado de verde e de um clima agradável. Ele tinha seus quase vinte anos e estava no aguardo de freqüentar um novo colégio, pois ainda era início do ano. Da janela da casa, que ficava numa parte alta do bairro, dava para ver boa parte das outras casas das redondezas e uma lhe chamou a atenção. Era uma casa antiga e vivia praticamente fechada, tinha um imenso jardim que parecia não ser bem tratado com muitas folhas secas espalhadas pelo chão. Luís passou alguns dias observando aquele detalhe e imaginava alguém sair da casa a qualquer momento, mas isso não acontecia. Certa tarde ele notou que a porta daquela casa estava aberta e curioso esperou que alguém saísse. Com efeito, uma linda jovem surgiu e ficou a observar a rua e em dado momento seu olhar se concentrou no rspaz que, subitamente, teve um ímpeto de alegria. Luís sorriu satisfeito ao ver que aquele olhar era para ele, a distância era pouca e deu para perceber o seu sorriso encantador. Luís não se conteve e vencendo a timidez fez um leve aceno para a moça que respondeu prontamente com outro aceno. Seu coração bateu descompassadamente, surgia ali, talvez, uma amizade. Depois de alguns minutos ela entrou e a porta fechou-se.
Alguns dias se passaram e sempre na mesma hora a jovem surgia na porta daquela casa antiga e acenava para Luís, que ficou encantado por ela. Pensou em sair e ir ter com a bela moça, porém sua timidez impedia, pensava que ao fazer isso não fosse bem recebido e se contentou em apenas ficarem se olhando e trocando sorrisos e acenos. Era pouco, mas era o que podia fazer no momento. E já estava decidido, começou a gostar dela e sentiu necessidade de algo mais e resolveu descer a pequena ladeira que ficava entre sua casa e a rua principal, onde mais adiante se situava a casa da moça. Ganhou a rua e chegou em frente do antigo imóvel percebendo que seu estado não era dos melhores. Mas lá estava ela e era o que lhe interessava. Ficou abismado com a beleza dela. Seu sorriso visto de perto era mais deslumbrante e isso o agradou imensamente. Fez menção de querer entrar, porém existia ali um portão de ferro bastante corroído pela ferrugem e também um enorme cadeado que o prendia. Nada podia fazer e a moça não se aproximava dele, ficava só no terraço a lhe sorrir por alguns momentos e depois entrava sem ao menos se despedir. Como ela não retornava ele voltava para casa. Essa cena se repetia sempre, Luís estava perdidamente apaixonado, queria pelo menos ouvir sua voz, tocar suas mãos, acariciar aqueles lindos cabelos, mas não podia, a distância não permitia e mesmo ela entrava sem nada dizer. Voltava o pobre Luís para casa decepcionado imaginando poder abraçar aquele corpo e beijar aquela boca carnuda que durante todo esse tempo nunca emitiu uma única palavra. Às vezes nem sentia vontade de descer e ir até lá, da janela mesmo se contentava em "namorar" aquela que nem sabia seu nome.
Como a situação não mudava e ele estava sempre sonhando com ela, resolveu tomar uma providência, iria entrar a todo custo naquela casa, seu coração lhe pedia, estava louco de amor por aquela estranha moça e queria descobrir mais sobre ela. Tentou arrombar o portão mas foi impedido por uma senhora que por ali passava no momento e o advertiu que não fizesse isso, pois poderia se dar mal já que a casa era mal assombrada. Luís ficou impressionado com o que aquela senhora passou a relatar, que aquele imóvel pertencia a um casal que havia morrido em um acidente de carro e que quando a única filha que tinham soube do acontecido tirou sua própria vida, pois amava os pais e não ia conseguir viver sem eles. O boato do suicídio da moça tomou conta do bairro e muitos afirmavam terem visto a jovem na entrada da casa, que permaneceu abandonada por vários anos e ninguém se prontificava em comprá-la ou então alugá-la. Mais uma vez decepcionado Luís voltou para casa e nunca mais viu a jovem no terraço e a porta estava sempre fechada.