UM ANJO DESCE DO CÉU

   Norma saiu de casa por volta das duas da tarde, sua mãe Ieda estava a cochilar na espreguiçadeira que ficava na varanda, coisa que costumava fazer depois donalmoço. Não disse aonde ia, mas seu semblante era de preocupação e não queria aborrecer sua mãezinha Ieda, já na faixa dos sessenta e poucos anos, merecia descansar, segundo a filha querida, não ficando a par de problemas que ela mesma tentaria e poderia resolver.

   Este mundo cheio de problemas sociais estava preocupando Norma, que recentemente enfrentara uma barra e tanto, seu pai havia deixado este mundo por conta dessa maldita pandemia que ainda inferniza a vida dos brasileiros e do povo do planeta inteiro. Seu Dartagnan era um homem feliz, alegre e muito brincalhão, de repente pegou uma pneumonia e em poucos meses foi embora. Norma sentiu muito, assim como d. Ieda sentiu da mesma forma.

   D. Ieda dormia tranqüilamente na varanda, a brisa soprava com suavidade e fazia seus brancos cabelos esvoaçarem levemente. Ela sonhava em plena tarde, um sonho que nunca imaginara ter. Estava ela em uma planície, era um lugar de uma beleza sobrenatural, ela mesma se admirava em ver tanta beleza, um céu azul com poucas nuvens brancas, uma brisa agradável, um verde com pássaros sobrevoando altas árvores e um riacho de águas cristalinas. O interessante nesse sonho é que ela não se chamava Ieda e sim Fernanda. Era um anjo que havia descido do céu para "vistoriar" uma parte da Terra onde tudo mudaria. Ela vestia uma linda vestimenta branca e fôra determinada para ir de encontro a uma pessoa que estaria a lhe esperar naquele local pré determinado. E lá estava a pessoa, tranqüila e séria sentada em uma rocha como a meditar. Esse anjo chamado no sonho de Fernanda chegaria bem perto dela e conversariam normamente como se conhecessem.

   Norma morava em um pequeno povoado no interior, era professora de uma escola nas redondezas de sua casa. Nessa tarde, quando saiu depois do almoço e deixou sua mãe tirando uma costumeira soneca na espreguiçadeira, estava um pouco triste, porém algo a fez sair, teve uma intuição de ir até a planície, ali meditaria um pouco e colocaria todas as suas preocupações nas mãos de Deus, nessas circunstâncias o Divino saberia como agir para aliviar a tensão de Norma. Assim que escolheu o local para suas meditações Norma sentou-se em uma rocha e se pôs a orar, estava precisando muito, não só para si e sua mãezinha Ieda, mas para todo o povo brasileiro que necessitava sair de um grande sufoco, de uma vida bastante sofrida. Ela teve um aviso, momento em que uma sonolência se abateu sobre seu corpo, um anjo a visitaria e ela deveria ouví-lo. Exatamente isso ocorreu, Norma viu quando esse anjo se aproximou vindo das alturas. Surpreendeu-se com esse fato, mas como já estava preparada para tal situação manteve a calma e ficou a escutar o que lhe era dito ao ouvido. Toda a tristeza de Norma sumiu como por encanto, ela sorria com uma satisfação impressionante. Não se olhavam, lado a lado as duas criaturas de Deus dialogavam com a maior naturalidade, tudo o que o anjo dizia era compreendido por Norma que ouvia atentamente.

   O sono de d. Ieda estava tão gostoso que tinha momentos que ela sorria, seu sonho estava sendo maravilhoso. D. Ieda, ou simplesmente o anjo Fernanda, teve a nítida impressão que volitava, via toda a planície tal qual os olhos de um pássaro em pleno vôo. Ao avistar a pessoa com a qual confabularia desceu mansamente e sentou-se na mesma rocha onde Norma estava, era com ela que deixaria recados para uma vida bem melhor, tranqüilidades que seriam compartilhadas com outras pessoas das redondezas.

   Norma despertou daquela espécie de transe e olhou ao redor. Viu toda aquela beleza natural do local onde morava, estava feliz com isso, amava aquele lugar onde nascera, vivera e se tornara professora. Não deixaria por nada aquele lugar onde uma certa esperança invadia sua alma. Lembrou-se da mãe, havia deixado-a sozinha em seu cochilo habitual depois do almoço na varanda. Olhou o céu azul sentindo a brisa lhe abraçar e teve a nítida impressão de ter visto a imagem do rosto de seu pai Dartagnan em forma de nuvem. Como por instinto deu um tchau para ele e se pôs a caminho de volta para casa. Quando adentrou a residência foi o momento em que sua mãe Ieda acordava. Beijou sua testa e disse: mãe, de hoje em diante eu sou uma mulher feliz para sempre.

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Uma história fictícia, porém seus personagens têm nomes reais, nomes que escolhi para homenagear alguns poetas/escritores, são quatro recantistas que eu muito admiro por terem trabalhos excelentes aqui no RL, sem desmerecer os demais poetas e escritores deste site, a quem peço desculpas, quem sabe, talvez outro dia poderão ser honrados com essa minha gratidão. São eles: Norma Aparecida Silveira Moraes, Dartagnan Ferraz, Fernanda Xerez e Ieda Chaves Freitas.

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 11/08/2022
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