JOSÉ, O LOUCO DAS REDES SOCIAIS

JOSÉ, O LOUCO DAS REDES SOCIAIS *

 

 

José estava ficando seriamente dependente das redes sociais, sofrendo de uma incontrolável incontinência nas redes sociais. Postagens no Face, Instagram, Whatsapp, Telegram ETC, em grupos de comida tailandesa, hérnia de disco, zumbido no ouvido, filmes de superherois , além de puras futilidades , haviam preenchido seu tempo por completo a tal ponto que sua vida tinha se reduzido à contagem de likes, corações, polegares levantados para cima que suas postagens atingiam nessas redes. Uma postagem com muitos likes era motivo de euforia comparável a de ter publicado um importante livro e uma de baixa cotação ou de criticas, era fonte de grave frustração. Ele havia se tornado um bipolar dos likes, tão adicto a eles como um viciado em cocaína. Quando se esforçava para ficar alguns dias sem nada postar ele sofria da síndrome de abstinência que o levava a uma extrema ansiedade. Consultou psiquiatras e psicanalistas e experimentou antidepressivos e ansiolíticos sem grandes resultados.

Até que certo dia teve uma brilhante ideia: para se livrar deste terrível vício dos likes e polegares erguidos para suas medíocres postagens online, imprimiu as melhores fotos que havia tirado com seu celular, e com antigas máquinas fotográficas, e as organizou num álbum de papelão, como se fazia antes do advento da internet. O álbum tinha uma ordem temática: fotos de viagens que havia feito, fotos em família, em restaurantes, antigas lembranças de 20 a 30 anos atrás.

Saia às ruas com o grosso álbum de baixo do braço e parava as pessoas como se estas fossem velhos amigos. Afinal que diferença faria se exibisse suas fotos para milhares de desconhecidos amigos virtuais das redes ou se as mostrasse diretamente nas ruas para pessoas reais igualmente desconhecidas? - pensou ele.

Seus lugares prediletos eram pontos de ônibus, estações de metrô e ruas de intenso comércio. Batia um curto papo sobre futilidades, com pessoas escolhidas ao acaso, e logo em seguida abria o álbum e mostrava às atônitas pessoas suas fotos cuidadosamente selecionadas: viagens a Paquetá , Juiz de Fora, Pedra de Guaratiba, Caxambu, Governador Valadares; fotos comemorativas de aniversários com imensas mesas de familiares e amigos em churrascarias; fotos que tirava de pratos que escolhia em restaurantes; lembranças em preto e branco de quando era um garoto e outras em cores desbotadas, tiradas com uma máquina Kodak, de quando era um jovem estudante. As pessoas atordoadas não sabiam como se livrar do inconveniente interlocutor. Apenas por delicadeza lhe diziam “que belas fotos”, enquanto nervosamente consultavam seus relógios para em seguida correrem aos pontos de ônibus e estações de metrô, deixando-o falar sozinho, enquanto outros não conseguiam se desvencilhar a tempo do intruso e acabavam perdendo seus horários de embarque.

José se deu por satisfeito e ate feliz, pois havia se livrado do vício das redes sociais e, segundo ele, dia após dia, fazia dezenas de "amizades" de carne e osso na rua, em tempo real. Nada de postar mais fotos nas redes, pois as exibia diretamente a pessoas reais nas ruas de sua cidade.

Com a nova prática, segundo ele, conseguiu centenas de amigos e até dois seguidores: um policial e um psiquiatra chamados com urgência para , com uma camisa de força, interná-lo num hospital psiquiátrico, onde foi diagnosticado com o transtorno narcisista compulsivo (TNC).

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cel/zap: (21) 96846-8858

* Conto extraído do livro "O bêbado e o Rabino" , que em breve estará à venda nas boas casas do ramo

 

 

 

Roberto Leon Ponczek
Enviado por Roberto Leon Ponczek em 04/08/2022
Reeditado em 03/10/2023
Código do texto: T7574937
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