O CORREDOR DOS ESQUECIDOS (Republicação)
(Este conto foi publicado aqui no RL em 19/12/2018 e agora estou novamente publicando).
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Um lapso de lembranças me deixou consciente de um passado que vivenciei e que passou anos a fio sem que meu cérebro recordasse nada, tudo era esquecimento, eu desconhecia quem era e o que fazia. Tentava imaginar alguma coisa que detectasse a minha identidade, mas naquele ambiente estranho e que não era aceito com vontade eu me perdia em conjecturas as mais diversas. Ali estavam pessoas presas em um local onde a única entrada era um corredor extenso trancado por grade de ferro e sem portão. Ninguém podia sair em hipótese alguma e por onde entraram eu não sabia dizer. Eram rostos tristes, semblantes de profunda amargura e sofrimentos horríveis. Alguns deitavam no chão, outros caminhavam como zumbis sem saberem o que fazer. Gritos se ouviam, os quais produziam ecos de terror, dia e noite, e não se via um só momento de silêncio e isso me deixava bastante constrangido.
Esse instante de volta do meu raciocínio lógico, num flash que me levou ao passado, mostrou o meu verdadeiro "eu", agora sabia a minha origem e aproveitei o máximo para mergulhar nas lembranças que me chegavam a mente. Eu fui traído pelo destino que me induziu ao mal, me locupletei de coisas indevidas e contribuí para a destruição de vidas valiosas que hoje amargam sofrimentos severos, assim como eu, mesmo fora daquele corredor horrível e insuportável para se viver, se isso pode ser chamado de vida. Consciente de quem era e do pagamento que recebi por tão grave descumprimento de normas do meu mundo, via então as lembranças se apagarem aos poucos do meu cérebro e fora do corredor onde criaturas esquecidas pela sorte clamavam por dignidade, me vi entorpecido por uma nuvem escura. Ali, também aprisionado e sem opções de fuga, comecei a encarar essa realidade como natural, fruto do meu comprometimento irresponsável com a vida digna.
Olho insistentemente para o corredor onde essas pobres criaturas convivem em total desarmonia, talvez tão culpadas quanto eu, merecedoras de tão bruto castigo, algumas delas me apontando seus dedos e pronunciando palavras inaudíveis. O flash de lembranças me fez tomar consciência de que deveria aceitar essa situação, o passado não mais importa e aqui continuarei temendo entrar naquele corredor ali bem perto de mim.