A DECEPÇÃO DE BIA, COITADINHA
Este conto foi publicado em 11/04/2014 e hoje volto a publicá-lo para que novos recantistas tenham a oportunidade de ler, já que muitos só acessam os textos atuais. Gente, volto a dizer, acessem os textos antigos, não só os meus, mas os de outros poetas e poetisas, tem muita coisa antiga que vale a pena ler.
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BIA, DECEPÇÃO E TRISTEZA
Inconformada, Bia amargava aquela solidão que tanto a maltratava, que a deixava infeliz. Lágrimas de tristeza desciam por suas faces tornando-a mais decepcionada a cada dia. Via o sol nascer através da janela do seu quarto, acompanhava o passar das horas aparentemente com paciência num silêncio comum para ela, a tarde avançava rapidamente aos olhos de Bia, que tinha o privilégio de ver o sol se por através da outra janela do primeiro andar desse local onde nunca se afastava. Estava sempre ali, naquele quarto bem cuidado pela serviçal que lhe trazia diariamente e na hora certa a alimentação necessária para a sua sobrevivência. Há anos que não se ausentava dali desde o acidente de automóvel que a vitimou deixando-a paraplégica em plena juventude. A cadeira de rodas lhe deixava abatida, ela que se acostumara com a vida lá fora, cheia de saúde e de amizades que agora lhe faltava. Um só amigo sequer não a visitava, não lhe trazia uma palavra de conforto. Sumiram como por enquanto, esqueceram que Bia existia, que era gente que tanto alegrou a turma com a sua companhia. Restam apenas lembranças para essa jovem que jamais viverá novamente para a vida lá fora. Aquele quarto era o único refúgio, a única maneira de continuar vivendo, não como ela queria, mas por imposição do destino que a escolheu para esse castigo e que nunca aceitou.
A campainha da imensa casa tocou e a serviçal atendeu. Era o médico que atendia ao chamado dos pais de Bia, visivelmente preocupado com a saúde de sua paciente a quem visitava constantemente e administrava medicamentos, alguns dos quais ela não tomava, jogando-os fora discretamente. A filha única do casal de idosos ainda não atingira os trinta anos, mas a sua aparência era além disso. A porta do quarto foi aberta e o médico entrou, encontrando Bia com o olhar vazio, olhando para o nada. Tarde demais, o espírito dela não mais se encontrava ali há horas, deixando somente um corpo quase esquelético, sem vida.