O corpo jogado no chão. Levemente o sangue escorria pela cabeça daquele ser, que tremia. Olhei. A euforia tomava conta das pessoas em torno do recente acidente. O desespero de uma mulher, que chegou e viu jogado no chão alguém que aparentemente ela amava. Vi nos olhos dela lágrimas jorrarem... muitas lágrimas em meio a gritos!
Eu não senti nada ao ver tudo aquilo. A dor da vítima não me incomodava, via no chão apenas mais uma vida findando. Os sons ensurdecedores da dor da mulher traduzidos em gritos, mais me incomodava que me comovia. Que mulher insuportável! O tédio tomou conta de mim, aquela cena mal escrita e mal interpretada que a vida me trazia, incomodava-me pelo exagero. Desnecessário!
Por que o espanto? Não atropelei o motoqueiro, nem tampouco chamei a mulher em desespero. Devo eu sentir a dor de ambos? Poupe-me! Irá me culpar também pela dor das mulheres das vítimas da guerra? Terei que chorar pelas vítimas das doenças mortais? Não sou eu, o mal. Apenas não me comovo com a morte, nem tampouco com a dor. E por que deveria? Desde que o mundo é mundo a morte e a dor coexistem com o homem, ou melhor, devoram o homem. Por que eu deveria chorar a dor de um mísero motoqueiro acidentado?
Pronto. Ele morreu! O mundo matou mais um, e vai matar outro... e outro. E amanhã outros tantos. Não sou eu o estranho. Vocês é que são esquisitos por ainda se comoverem com algo tão simplório e certo, que são a morte e a dor. Antes de mim, milhões morreram. Depois de mim, milhões morrerão. Não irei perder meu pouco tempo de vida lamentando o que me espera logo mais.