Os antivacina

- Nosso filho é perfeitamente saudável - declarou Martin Vass com orgulho.

- Percebo - redarguiu a diretora Novák, sentada por trás da mesa diante da qual estavam os Vass, marido e mulher. - Seu filho parece vender saúde, mas o que importa aqui é que só poderemos aceitar a matrícula dele em nosso colégio, se forem apresentadas todas as vacinas obrigatórias.

Os Vass trocaram olhares.

- Nós não acreditamos em vacinas - afirmou solenemente Júlia Vass. - Foram inventadas pelo governo para injetar substâncias que controlam a mente das crianças.

A diretora Novák ergueu os sobrolhos, descrente do que acabara de ouvir.

- Perdão? Vacinas servem para evitar doenças mortais, não para controlar a mente de quem quer que seja. E, me desculpem a franqueza, mas se não apresentarem a caderneta de vacinação, terei que denunciá-los às autoridades.

- Por não concordarmos que substâncias desconhecidas sejam ministradas ao nosso filho? - Júlia Vass encarou de forma gélida a diretora.

- Por expô-lo desnecessariamente a risco de vida - rebateu a diretora. - Lamento, mas enquanto não trouxerem a caderneta, não irei examinar o seu pedido de matrícula.

Os Vass ergueram-se simultaneamente, com ar de dignidade ofendida.

- Voltaremos - disse Martin Vass em tom de desafio, colocando o chapéu na cabeça.

- Assim espero - retrucou a diretora, sem se intimidar.

* * *

Arnold, o filho único dos Vass, aguardava placidamente os pais, sentado num banco do corredor que levava à sala da diretora Novák.

- Eu vou poder estudar aqui? - Inquiriu ansioso o garoto, tão logo viu os pais saírem da reunião.

- Talvez ainda não este ano - replicou o pai, acariciando os cabelos escuros de Arnold.

- São as vacinas - explicou a mãe em voz baixa, enquanto caminhavam para a saída do colégio. - Querem que você tome as vacinas.

- Mas se é só isso, mamãe... - começou a dizer Arnold.

Júlia Vass inclinou-se sobre o filho.

- Você não pode tomar as vacinas, filho; infelizmente, nenhum de nós pode.

E enquanto saíam para fora do prédio, rumo ao carro antigo estacionado sob uma árvore:

- Já discutimos a questão da nossa fisiologia; internamente, somos muito diferentes dos humanos. Estas vacinas nos matariam...

O pai sacou as chaves do carro do bolso do sobretudo e complementou a fala da esposa:

- Prometo que vamos dar um jeito nisso, até para que você possa conviver com crianças humanas; mas por ora, teremos que continuar com o ensino domiciliar...

- [05-07-2022]