O apostador

Avisei a Jones, jogador inveterado, que evitasse a todo custo o novo cassino que havia sido aberto no centro da cidade.

- O que tem ele de diferente? Paredes sem janelas e iluminação artificial 24h por dia? - Ironizou.

- Isso todos os cassinos têm - repliquei. - Não, a coisa lá é muito mais insidiosa; eles te deixam apostar coisas que normalmente outros antros de jogatina não permitiriam.

O sorriso no rosto de Jones ampliou-se.

- Minha alma imortal?

- Acho que ainda não chegaram neste grau de sofisticação, mas pode crer: você pode apostar a própria vida.

Jones ergueu os sobrolhos.

- E se eu perder, o que acontece?

- Você passa a pertencer a eles, legalmente.

Jones levou a mão ao queixo, expressão reflexiva.

- Então... eles não te matam por dívidas?

- Não entendeu? - Retruquei. - Você vira escravo dos caras!

Jones deu de ombros.

- Morrer por causa de dívidas não pagas é minha única preocupação... nunca apostei minha própria vida, preciso experimentar isso!

Deu-me um tapinha nas costas e saiu muito satisfeito, rumo à própria perdição.

- [28-06-2022]