__...Matilda: do outro lado do Espelho...__ (Parte II)

Matilda, assediada a adentrar a dimensão do espelho, seguiu resfolegante para a sua nova vida. Em um passo de cada vez, pisou nas remotas paisagens daquele lugar, antes desconhecido por ela. Fora recebida pela mais variada quantidade de espécies, desde bruxas, gnomos e fadas, até lobisomens, faunos e seres desformes, nunca antes visto nem mesmo nas histórias de fantasia.

Aquele lugar, aquele reino, era surreal e bizarro, algo que nunca imaginou que poderia existir, até o momento em que fez a sua tenebrosa escolha. Certa noite, Matilda, após tomar um banho quente e reconfortante, enxugou-se em uma toalha negra e felpuda e dirigiu-se até a pia. Olhou para o espelho, mas nada via, pois ele estava todo esbaforido, tomado pela fumaça do banho quente. Matilda passou uma das mãos no espelho, olhou seu reflexo e notou que seus olhos estavam negros, tais quais duas jabuticabas. No mesmo momento assustou-se, bateu uma de suas mãos em um pote de creme para pentear, o qual caiu no chão. Abaixou-se, pegou o mesmo e devolveu para cima da pia. Fitou novamente para o seu reflexo e num piscar de olhos, notou que suas orelhas estavam pontudas e todos os seus dentes rilhados.

- Será um sonho? – perguntou a si mesma.

Quando um sonido, um tintilar de asas zuniu em seu ouvido e uma voz serena, mas metalizada, proferiu:

- Sabes quem é, Matilda! Aguardamos você em nosso reino. Venha e tome o seu trono!

Aquela voz sussurrante assombrou tanto sua mente, que Matilda sem mais pensar questionou:

- O que querem de mim? Porque eu? Que reino é esse?

A moça então se trocou e foi deitar-se! Fechou os olhos e entre o sono e a vigília, sentiu algo ou alguma coisa a chamando, do espelho do banheiro.

- Matildaaaaaaa, venhaaaa! Venhaaaa! – sussurrava a voz metalizada.

Matilda se debatia na cama, sua cabeça parecia que ia explodir devido ao zunido ensurdecedor o qual açoitava seus ouvidos.

A moça se levantou da cama, calçou os chinelos, se enrolou em uma coberta e rumou para o banheiro.

A bruma tomava conta daquele cômodo e o espelho, ainda embaçado refletia figuras de seres espectrais e sombrios. Matilda, tomada por um tipo de hipnose tocou no espelho, e sua mão adentrou ao mesmo, como se aquele objeto fosse transparente. Sentia a mão gélida e ao mesmo tempo úmida e gradativamente esquentava de uma maneira, que ela se assustou, saindo do transe.

Foi então que uma espécie de elfo, sombrio, com olhar soturno frio; disse-lhe em voz gutural:

- Matilda, venha até nós, você é nossa, não mais pertence a esse mundo ou dimensão!

A moça ressabiada e curiosa, perguntou:

- O que é você?

- Sou um elfo do reino da dimensão do espelho. Meu nome é Zylian.

- O que quer de mim Zylian? – indagou.

- Você precisa vir comigo! É necessário para o meu e para o seu mundo.

- Mas porque e como o farei?

- Porque você foi a escolhida por ele, para reinar em minha dimensão! Você é poderosa, Matilda, mas ainda não sabe disso. E para vir comigo, vou precisar de apenas uma lágrima sua! E antes que me pergunte porque a lágrima; porque ela simboliza a pureza, o choro é algo que vem de dentro de vocês humanos, e nos alimentamos disso, vocês são como nosso alimento e a pureza contida em uma gota de lágrima, é como um bálsamo para o nosso povo! Agora vá, tens 12 horas para me dar a resposta.

Matilda abriu os olhos espavorida!! Estava toda descoberta, passando frio e se perguntava se tudo aquilo que vivera era real ou apenas um sonho. Foi quando ao pé da cama notou que uma pedrinha rubra, brilhava!! Pedra aquela qual ela nunca havia visto em toda a sua vida.

*

O dia raiou e Matilda segurava aquela pedra e refletia no acontecido. Abriu as negrumes e antigas janelas de seu quarto e permitiu que a neblina da manhã, adentrasse em seu pequeno quarto.

As horas passaram ligeiras e alguns poucos minutos do prazo dado por Zylian; Matilda correu até o banheiro e pensou: - nada tenho a perder nessa vida. Perdi todos, só tenho a mim, não custaria sair desse marasmo, de meu emprego fútil e de minha vida sem nexo, para uma aventura interdimensional.

Matilda então lembrava de tudo o que passara, de todas as dores, cores e amores; de toda sua mísera vida na Terra e plangeu lágrimas eternais de tristeza.

Quando a última gota da salgada lágrima, tocou o fundo daquela pia enferrujada pelo tempo; passou um filme na mente de Matilda.

A partir daquele lânguido momento, mergulhou em uma dimensão paralela, a qual do outro lado do espelho quebradiço, a aguardava curiosos, uma legião de seres fantásticos e sombrios.

Do outro lado do espelho, Zylian junto a uma horda de outros seres, a recebia. Todos eram criaturas sérias, gélidas, as quais não demonstravam sentimento algum. Certamente precisavam de alguma coisa em troca, como os sentimentos ou as lágrimas de Matilda.

Mal entrara naquele mundo e o céu negrume, deu um tom avermelhado e debaixo de uma rocha, um ser surgia. Ele devia ter uns 3 metros de altura, cabeça de bode, chifres pontiagudos, garras afiadas, olhos vermelhos e faiscantes e uma voz tétrica.

- Matilda, agora você é minha!!

Zylian e um grupo de por volta de uma centena de criaturas, virou-se contra o bodão e emanaram suas magias, além de armas poderosas. Mas aquele ser obviamente também possuía suas proteções, e debaixo do fogo cruzado 5 gigantes de pedra esmagava seus inimigos, além de lobisomens famintos que rasgavam as criaturas as quais, de alguma maneira, estavam ao lado de Matilda.

A moça, em total paúra virou-se para o portal de onde saíra e em desespero tentava sair daquele lugar!! Em vão, pois o mesmo havia sido fechado por algum tipo de magia.

Foi então que uma bruxa pegou pelos braços de Matilda, montou em sua vassoura, levando a moça para longe daquela balbúrdia.

Ao longe, lá do alto, presenciava a beleza da paisagem ímpar daquela dimensão. Riachos de cor azul neon nunca visto na terceira dimensão, árvores frondosas e enormes chegando a mais de 50 metros de altura, com folhagens gigantescas onde abrigava civilizações inteiras, a terra era de uma cor dourada que reluzia com o céu negrume, mas que agora estava rubro e turvo. Matilda acompanhava fadas voando ao seu redor, mas elas não eram lindas tais como os contos de fadas de nossa Terra, elas tinham dentes rilhados, pele enrugada, olhos negros sem pupilas, asas parecidas com as de morcegos e sibilos tão profundos e agudos, capazes de ensurdecer qualquer humano.

A bruxa então pousou em uma espécie de mausoléu ornado com plantas trepadeiras, oriundas daquela região.

- Olá Matilda, meu nome é Madame Zákrina! Estou aqui para te contar o que está acontecendo e ajudar você a voltar ao seu mundo, antes que tudo aqui vá pelos ares.

- Sim, por favor, me explique, não compreendo o por que me querem aqui e o que está havendo? – perguntou a moça, cambaleante.

- Bem, aquele ser avermelhado que viu e lhe chamou, é Gorgoroth! Ele é o senhor desse mundo. Todos nós somos seus súditos, mas muitos de nós, nos rebelamos quando ele transformou essa dimensão em uma prisão para humanos. Gorgotoh precisa se reerguer e impor o seu respeito para a dimensão inteira, e para isso ele precisa de uma humana para se casar e depois sacrificá-la! A última mortal que aqui estava, conseguiu encontrar uma brecha e voltar para a sua dimensão. O nome dela é Karunah, sua tia!

Matilda, inerte e sem palavras, lembrou que sua tia uma vez lhe disse, quando Matilda tinha seus 4 anos de idade; que visitara uma dimensão grandiosa e bela, mas perversa; a qual rodeava nosso mundo. Contou os terríveis anos os quais passou por aquele lugar e quase morreu tentando escapar de criaturas malevolentes. Anos depois ela enlouqueceu e foi internada em um manicômio. Ela dizia que via espectros por todos os lados e seres sussurrando em sua mente.

- E eu achava que minha tia tirava toda aquela fábula, de livros de contos de fantasia! – disse arregalando seus olhos acastanhados.

- Pois é Matilda, sua tia pereceu aqui por anos, sua energia fora quase toda devorada por Gorgotoh e seus asseclas e se não fossem os rebeldes, ela teria sido sacrificada.

- Mas e Zylian, ele está ao seu lado certo?

- Não Matilda, se você está aqui é por culpa dele! Ele é uma espécie de braço direito de Gorgotoh. Antigamente ele fazia parte da resistência, mas acabou cedendo aos caprichos de Gorgoroth, e nos traiu! Zylian deve ter assediado você em algum sonho ou experiência extra-corpórea, e você deve ter feito um pacto com ele.

- Pacto? Como assim, eu não me lembro ter assinado coisa alguma?

- Me diga, você reconhece isso? – mostrou uma pedra rubra e brilhante para a moça.

- Sim, é a mesma pedra que encontrei em minha cama, quando acordei daquele sonho maluco em que vi Zylian.

- Pois então!! Essa pedra é uma simbologia de uma gota de seu sangue petrificado, quer dizer que de uma maneira ou outra, em sua experiência, você fez um pacto de sangue com Zylian, o líder dos elfos negros.

- Mas e agora, como faço para quebrar esse pacto e conseguir minha liberdade?

- Somente matando Zylian! E se você conseguir sair daqui, sem mata-lo, estará condenada pelo resto de sua vida física na Terra e no pós-vida, será uma escrava de Gorgotoh.

- Zákrina, me diga, estou morta, digo, meu corpo físico tridimensional morreu e aqui sou um espírito?

- Não Matilda! Você veio com seu corpo tridimensional pra cá. Foi apenas uma transição de uma dimensão densa para outra menos densa. Você sente enjoo ou dor de cabeça?

- Sim, e muita! Principalmente no momento em que passei pelo espelho! Quase vomitei e desmaiei. Ainda me sinto mole.

- Você precisa descansar um pouco! – Phyrian, venha aqui – ordenou Zákrina à sua ajudante, que era uma fada. – Leve nossa convidada para seus aposentos.

Phyrian gesticulou à Matilda para que a seguisse. O mausoléu era ornado por grandiosas plantas, luzes de animais tais quais insetos, iluminavam cada cômodo, além de pedras das mais variadas cores e tamanhos, faziam uma espécie de proteção naquele lugar.

C O N T I N U A ------------------------------->>>>

Tiago Tzepesch
Enviado por Tiago Tzepesch em 09/06/2022
Reeditado em 09/06/2022
Código do texto: T7533890
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