Speculum veritas
O mago pediu que Heahfrith aguardasse enquanto ele consultava os espíritos. Tirou então de um bolso interno do manto o que parecia ser uma placa de obsidiana polida, mas quando tocou na superfície negra e lisa, ela se iluminou em cores vivas. Heahfrith arregalou os olhos, espantado.
- Que estranho objeto é esse? - Indagou a Heahfrith.
- É o meu espelho mágico - minimizou o mago. E erguendo a placa à altura dos olhos, indagou:
- Beyhild, baseado no histórico de precipitações desta região, teremos uma boa colheita este ano?
Uma voz bem educada de mulher emergiu do objeto:
- Ainda há muita cinza vulcânica em suspensão na atmosfera, portanto a produção de grãos será abaixo da média, inclusive de trigo. Todavia, as condições ainda estão boas para o cultivo do centeio.
O mago virou-se para Heahfrith.
- Aí tem a sua resposta; melhor apostar no centeio este ano.
Heahfrith apontou para a placa preta.
- Esse espírito... Beyhild... responde a qualquer pergunta?
O mago deu de ombros.
- Depende. O que quer saber?
Heahfrith hesitou, mas finalmente formulou a pergunta:
- Engelieth é mesmo a mulher mais bonita do mundo?
O mago ergueu novamente a placa e a encarou, muito sério.
- Me responda, Beyhild: Engelieth de Dumby é mesmo a mulher mais bonita do mundo?
A resposta não tardou:
- Se por mundo você considerar as terras num raio de trinta léguas daqui, creio que Engelieth de Dumby preenche os requisitos.
Como Heahfrith pareceu não ter compreendido a resposta, o mago dignou-se a explicar para ele:
- Não se preocupe, Heahfrith; é muito pouco provável que, nas distâncias que irá percorrer nesta vida, encontre mulher mais bonita do que Engelieth.
E antes de guardar o espelho mágico no bolso, pensou consigo mesmo que, para sorte de Engelieth, o tempo em que mulheres do exterior aportavam à ilha já havia passado há muito.
- [02-06-2022]