FOI NUMA NOITE DE NATAL

   Foi assim como um raio de luz, ela surgiu de repente e eu não sabia com quem ela tinha vindo, se sozinha ou com algum familiar ou amigo. Nós estávamos comemorando o Natal em família, numa área aberta, era uma confraternização que sempre faziamos em casa, apenas com pessoas dos nossos laços sanguíneos, mas dessa vez resolvemos convidar os amigos para nos reunirmos, aliás o que muita gente faz. Tudo estava perfeito, todo mundo feliz, os familiares de um modo geral e alguns amigos chegados e que gozavam do nosso prestígio. Ela chegou discretamente e me chamou a atenção. Era linda, tinha um sorriso espetacular e parecia estar feliz como todos estavam ali naquela festa natalina. Eu fiquei a observá-la discretamente e tentando saber com quem ela tinha vindo, porém deixei esse detalhe de lado, minha atenção se prendeu no seu perfil.

   No auge dos meus dezoito anos eu era um rapaz discreto, acanhado, de poucos amigos, pois costumava selecioná-los imaginando com isso não correr riscos desnecessários. Tinha uma namorada, mas havíamos rompido dias antes, o que me deixou um pouco reservado. Para espantar a tristeza costumava ler romances no meu quarto, tinha vários livros com esse tipo de leitura do meu gosto. Trabalhava com meu pai numa loja de tecidos, mas tencionava conseguir coisa melhor, esperava passar em algum concurso e com isso desenvolver uma atividade do meu gosto.

   Voltando ao caso da jovem desconhecida permaneci observando-a, nunca a tinha visto nas redondezas, era uma desconhecida, no entanto depois eu tentaria descobrir a sua identidade e onde morava. Atentei tão somente para seus passos, ela ora estava ao lado de alguns familiares, ora perto de amigos, mas a minha impressão era de que ninguém a notava e isso me deixou curioso. Minha mãe me chamou até o local onde estava e momentaneamente me desliguei dessa figura que tanto me impressionou. Após atender minha mãe voltei ao lugar onde antes estava, no entanto não mais vi aquela jovem de espírito alegre. Me desesperei. Vasculhei com o olhar toda a área e nada dela. Comecei a andar e explorar algum possível lugar onde ela pudesse estar sem querer que as pessoas ali presentes desconfiassem das minhas intenções, pelo menos por enquanto. Foi então que numa área de jardim eu vislumbrei a imagem dela, estava sentada em um banco sorvendo num copo algum líquido que eu não sabia se era bebida alcoólica ou suco. Eu estava com um copo de cerveja na mão e fiquei apenas observando-a de longe. Meu desejo era me aproximar dela, mas algo me impediu disso, algo que me fez ficar paralisado, sua beleza natural me surpreendia. Como ela não me encarava resolvi romper aquela barreira de dúvida e me dirigi até lá, momento em que ela levantou-se e desapareceu por trás de umas plantas. Mesmo receoso fui até o lugar do seu sumiço e nada encontrei. Depois de alguns minutos de procura fui surpreendido por um familiar que me perguntou o que fazia ali. Arranjei uma desculpa e fui para o meio da turma, mas a jovem não me saía da cabeça, principalmente pelo fato de ter sumido assim de repente. Foi então que decidi perguntar quem era aquela moça detalhando o seu perfil e a sua roupa. Fui informado que não existia ninguém ali com as características que falei. Perguntei a outras pessoas, exatamente aquelas as quais ela estava perto, porém as respostas foram as mesmas. Fiquei preocupado comigo, estaria eu vendo coisas? Será que essa moça foi fruto da minha imaginação? Confesso que essa noite de Natal para mim não foi boa, pois não mais vi essa jovem e antes da festa acabar me recolhi ao meu quarto para dormir.

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 21/05/2022
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