PAIXÃO POR UMA VISÃO

   Luíza tentou por todos os meios se aproximar de um rapaz de boa aparência recentemente instalado em uma pousada, mas sempre encontrava dificuldades no local onde outros rapazes também estavam hospedados, algumas vezes chamava alguém e ninguém atendia, outras vezes encontrava o portão fechado. Ela morava no prédio em frente, um antigo apartamento situado no centro. Com Luíza também morava sua mãe, uma senhora aposentada com seus setenta e poucos anos. Ela viu quando ele chegou descendo de um carro de aplicativo com uma mala de viagem e uma sacola. Existiu uma troca casual de olhares, coisa normal que poderia acontecer entre tantas outras pessoas, mas aquele olhar se tornou marcante para Luíza, que amargava uma separação um pouco conturbada do marido, fato ocorrido há cerca de seis meses, resolvendo ela voltar a morar com a mãe, que deixara sozinha nesse apartamento. Para ambas foi ótimo por uma parte, pelo menos a mãe não se sentiria tão só, por outro lado deixara para trás uma casa com todos os móveis, tudo comprado pelo ex-marido, num casamento que durou apenas pouco mais de um ano. Estava se sentindo só e em busca de um novo amor, estava com 36 anos e não chegou a engravidar. Desde que esse jovem chegara que simpatizara com ele e viu naquele olhar uma possibilidade de uma aproximação, mesmo sem nunca terem trocado uma única palavra, mas o rapaz, pelo jeito, não pensava como ela, estava sempre distraído ou com outros problemas para resolver.

   Luíza queria insistir numa aproximação, ficou vidrada naquele rapaz, não sabia de onde viera e o que estava a fazer na cidade. Tinha que simular um encontro casual e descobrir mais sobre ele. Esperou pacientemente numa certa manhã quando ele geralmente saía, ela sempre o espionava, prostrou-se próximo ao portão da pousada e aguardou. Ela não sabe se ficou distraída, mas na realidade ele já ia na esquina e quase dobrando, o que a deixou confusa. Ela chegou a correr, mas não o viu, simplesmente ele desaparecera. Foi até a pousada para se informar melhor, queria saber dele, nome, etc. Em lá chegando procurou algum hospedado para conversar e simplesmente ninguém soube lhe informar nada sobre esse rapaz que ela procurava, o que mais uma vez a deixou confusa, mesmo detalhando as características dele.

   Alguns dias se passaram e Luíza não mais o viu, estava sempre atenta aos movimentos da pousada e o sumiço dele a estava incomodando e deixando seus nervos a flor da pele. Passou a sonhar com ele, no sonho ele a procurava, lhe abraçava e até trocavam carícias, o que a deixava excitada. Agora apenas em sonho ela o via, o mesmo semblante, o mesmo ar sério, tudo dentro do perfil que ela presenciou nos primeiros dias de sua chegada na pousada, se é que ela realmente pode afirmar que isso aconteceu, já que indo pessoalmente naquele local ninguém confirmou ali a sua presença, o que a deixou intrigada com tudo que estava acontecendo. Estaria tendo visagens ou ficando louca? Sentiu que estava precisando de repouso, nem se interessava mais por qualquer outro homem para preencher a sua vida. Só pensava naquele rapaz que passou a povoar seus sonhos quase todas as noites.

   Mais calma, depois de alguns dias rspousando, decidiu ir a um shopping comprar alguma coisa para ela e a mãe. Era um sábado de uma tarde linda, Luíza e a sua mãe adentraram o centro comercial e iniciaram uma pesquisa. Entraram em uma loja de roupas e observaram o mostruário. Da parte de dentro da loja dava para ver o lado externo do corredor do shopping e Luíza viu o que não esperava, a visão que tanto desejava, a figura daquele rapaz da pousada. Ele parou diante da vitrine e sorriu para ela, foi o primeiro sorriso que ela viu dele. Perturbada deu um grito que assustou sua mãe. De imediato correu para a saída com o intuito de encontrá-lo, mas lá fora não havia ninguém. Imaginou que sua mente lhe pregara uma peça. Mas foi tão real, pensou ela. Sem condições mais de permanecer ali decidiu ir para casa, estava profundamente abatida.

Já em casa, deitada em sua cama, Luíza dormiu um profundo sono. Sonhou com aquele rapaz, que agora era o rapaz dos seus sonhos, uma realidade que a enganava e perturbava. No sonho ele pegava sua mão e lhe abraçava. Em seguida a beijava e perguntava se queria vê-lo. Mandou que ela fosse até a janela e lá fora ele estaria. De imediato ela acordou e fez o que ele pediu, foi até a janela e viu que realmente ele estava lá. Ela chorou, não sabe se de alegria ou de tristeza. Mas ele estava lá, na frente do portão da pousada. Imediatamente ela desceu para ir ao seu encontro, mas lá embaixo não havia ninguém. Voltou desolada até a janela, lá estava ele acenando para ela. Luíza deu um sorriso triste, o único que tinha para oferecer. A única forma de vê-lo e fazer com que a sua paixão aumentasse, desejava estar em seus braços, beijá-lo, sentir o seu corpo junto ao dele, mas era impossível. E assim foi vivendo de fantasia alimentando aquela paixão sem futuro, era o que lhe restava, enlouqueceria se da janela do seu apartamento não pudesse vê-lo.

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 17/05/2022
Reeditado em 17/05/2022
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