O buraco das sereias

Eu tinha falado umas trinta vezes para Rose que não era uma boa ideia descer aqui no fim do mundo atrás do tal buraco das sereias, as fotos no Google maps mostrava uma gruta linda com uma piscina natural com luzes florescentes, a promessa era de entrar em uma viagem de ácido sem usar nada, o que me fez pensar do porque de estarmos indo em busca dele com um cartão inteiro em baixo da língua.

Descemos um desfiladeiro resvaladiço da chuva do dia anterior, eu já estava toda suja das quedas que aconteciam a cada metro, ela segurava minha mão me dando segurança para não me matar, Rose era acostumada com essas aventuras, eu, com sorte saia do meu quarto. Segundo ela eu precisava sair mais, eu vivia intensamente, mas em meus mundos virtuais, em fim, o improvável aconteceu e nos apaixonamos, a louca por aventuras e a viciada em MMORPG.

Estava empenhada em entrar no seu jogo, não queria que ela deixasse de gostar de mim, onde eu ia encontrar uma gata morena daquela, com seu rastafári que chegava na bunda, se tivesse cabelo liso poderia até se passar por alguma evangélica nos domingos de manhã.

Estávamos buscando fazia uma hora quando reclamei da maldita gruta, o acido vai bater e estaremos perdidas resmunguei, só me segue disse ela enquanto se afastava sentada na borboleta gigante, meu corpo foi ficando amortecido e as partes internas da minha bochecha parecia chiclete, tive vontade de comer minha própria boca, me concentrei em seguir a borboleta. A escuridão deu lugar a uma cena do filme Avatar, cogumelos cantavam para mim e as árvores eram feitas de chocolate, por algum motivo seu gosto era de molho de tomate, mas era bom, chocolate com molho de tomate era genial.

Rose havia desaparecido, mas um ser que parecia um pingo de lava com olhinhos puxados sorriu-me e pediu que eu o seguisse, confiei nele, depois de alguns minutos dentro do túnel de luz violeta encontrei a tal da gruta, e ali ela me esperava como uma deusa africana, nua em cima da borboleta com uma cachoeira saindo do meio de suas pernas, era grande demais para mim, eu era apenas uma ratinha de esgoto, sem importância, com medo da própria sombra.

Não perca a conexão ela gritou antes de mergulhar na água que ficou da cor de sangue, vampiros me olhavam das sombras, sussurravam como iam me comer, se inteira ou em pedacinhos, me encolhi ainda mais e criei uma pequena caverna ao meu redor com várias capas como bonecas russas. Lembrei que tomei um cartão inteiro de ácido e que tudo aquilo não podia ser real, abria os olhos para tentar me conectar com meu ser terreno, mas o mundo mental era mais real que o mundo de olhos abertos, busquei meu ser e só encontrei o vazio.

Senti um toque, era a mão dela que apertei como se fosse me salvar de um afogamento, vai ficar tudo bem ela disse, deitamos de conchinha nas costas da borboleta e dormimos até acordar no lado escuro da lua.

montezyin
Enviado por montezyin em 10/05/2022
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