O SONHO DE HAROLDO (SERÁ QUE FOI SONHO MESMO?)
O dia amanheceu com um alvoroço na casa de Haroldo, logo ele, um rapaz dinâmico, brincalhão e apreciador de uma boa farra nos "weekends" da vida. E justamente num domingo pós farra, o cara ainda curtindo a ressaca, mas ele estava lúcido quando acordou e aí a coisa ficou preta. Começou a se sentir mal, ninguém sabia o que era e mais que depressa foi levado ao hospital. Em lá chegando já estava inconsciente sendo imediatamente atendido. Segundo o médico plantonista era um caso de acidente vascular cerebral (AVC) sofrido por Haroldo, com apenas quarenta anos de idade. A família inteira na recepção só aguardando informações, inclusive a quase noiva Suelen que chorava igual bezerro desmamado. Enfim uma péssima notícia, o rapaz foi transferido para a UTI, estava em coma profundo e no soro. Todo mundo apavorado. Fizeram uma promessa, ele ia parar de beber e fumar, essas farras não estavam dando certo, foram muitas as noites e madrugadas que chegava embriagado e com a alimentação incorreta. Já era crescidinho para ficar de castigo, sabia o que fazia.
Vários dias se passaram e nada de Haroldo recobrar a consciência, estava ali na unidade de tratamento intensivo praticamente entre a vida e a morte e a família rezando pela sua recuperação. A mãe, o pai e os irmãos fazendo revezamento no hospital, Suelen ficava praticamente todas as noites, ia em casa só tomar um banho e trocar de roupa, além de uma sólida refeição, mas já apresentava olheiras. A família estava impaciente e já esperava um milagre, os médicos não davam boas informações.
Haroldo abriu os olhos e viu aquela cena desoladora, uns chorando pelos cantos, outros tristes e sua noiva Suelen ali perto da janela de vidro, todos observando ele, nada de contato físico. Ele então conseguiu levantar-se e foi até a janela, teve a visão exata do que acontecia, todos da família estavam ali, sua noiva e até alguns amigos. Isso o encarajou. Uma enorme parede de vidro separava eles, não podiam se tocar. Haroldo então perguntou o que estava acontecendo, por que estava ali, mas ninguém conseguia ouví-lo, apenas olhavam para o leito de onde ele saíra. Ele então se perguntou por que todos olhavam para a cama vazia se ele estava ali diante deles, separado apenas pelo vidro. Fazia perguntas mas não tinha respostas. Passou-se um certo tempo e o cansaço o venceu, resolveu então voltar para seu leito e ali adormeceu.
Na manhã seguinte ele acordou com enfermeiros tirando-o dali da UTI e levando-o para um quarto onde a família o aguardava, o que o deixou bastante feliz, possivelmente logo logo iria para casa. Mas a alegria durou pouco, todos pareciam não lhe dar atenção, apenas olhavam para ele como se olhassem para um objeto. Aquilo deixou Haroldo preocupado e até irritado, não entendia nada do que se passava com ele. Resolveu levantar-se, reuniu forças e se pôs de pé. Foi até os parentes, tentou abraçá-los, mas foi em vão, era como se seu corpo não fosse material, ele ultrapassava todos e não os sentia, o que o deixou assustado. Pensou estar morto, mas morto não vê nada, não anda, não consegue fazer o que ele estava fazendo. Começou a chorar, o desespero tomou conta dele enquanto todos que ali estavam tinham olhares fixos para a cama onde ele deveria estar. Olhou para a cama e viu seu próprio corpo inerte nela. Correu para abraçar seu próprio corpo e foi nesse momento que uma névoa se abateu sobre ele e que o fez perder os sentidos. Acordou horas depois e felizmente com todos sorrindo para ele. Ainda estava no hospital e contou para a família o sonho ruim que teve.