Centrífuga de emoções

Rakel entrou na lavanderia automática com uma bolsa de roupas, pouco antes da meia-noite, horário em que normalmente o lugar estaria vazio. Mas, naquela noite, havia uma outra mulher no recinto, pouco mais velha que ela, sentada lendo uma revista, enquanto uma das secadoras girava num ritmo hipnótico. Interrompeu a leitura, ao ver Rakel entrar.

- Boa noite! - Saudou Rakel.

- Boa noite - respondeu educadamente a outra.

Rakel escolheu uma lavadora e desbloqueou-a usando o cartão de crédito. Depois, começou a colocar as roupas que havia levado em camadas organizadas.

- Gosto dessa lavanderia, mas sinto falta de usar o meu próprio sabão e amaciante - comentou a mulher.

- Onde você ia antes? - Indagou Rakel, depois de ligar a máquina.

- Eu morava em Harea Bankua, perto do rio. Lá, as lavanderias ainda são manuais e têm atendentes.

- Rakel - apresentou-se, sentando-se diante da outra.

- Águeda.

- Gosto daqui justamente porque é tudo automático e faço tudo eu mesma - comentou Rakel. - Nos dias de hoje, essa privacidade faz falta...

E corrigindo-se rapidamente, para não ser mal interpretada:

- Não estou me referindo à companhia enquanto lavo minha roupa, mas às vezes as atendentes gostam de puxar assunto; principalmente tarde da noite...

Águeda esboçou um sorriso, colocando a revista de lado.

- Entendo o que quer dizer. De verdade. O único ponto negativo destas lavanderias automáticas, como falei antes, é que padronizaram o sabão e o amaciante. Eu mudava as fragrâncias, dependendo do resultado que queria obter.

Rakel inclinou o corpo para a frente, subitamente interessada.

- Ah, então você não está aqui somente para lavar a roupa... mas também por proteção?

Águeda fez um aceno de cabeça.

- Nada como unir o útil ao agradável, não é? Um sigilo de proteção aqui, um encantamento ali... tenho que compensar a falta das minhas fragrâncias prediletas...

- E a hora... - disse Rakel, olhando para fora pelas amplas janelas envidraçadas. Lá fora, o estacionamento do posto de gasolina estava praticamente deserto, fora a motocicleta dela e um automóvel que supôs ser de Águeda.

- É a melhor hora para selar um encanto - afirmou a outra.

- Você também usa a roupa girando na lavadora para fazer previsões? - Quis saber Rakel.

- Sim - admitiu Águeda abrindo um sorriso, e olhando atentamente para a máquina escolhida por Rakel, antes de comentar em tom casual:

- No seu caso, os prognósticos são particularmente frutíferos.

- Acho que começo a acreditar nisso - disse Rakel.

A conversa foi interrompida pelo sinal sonoro da secadora. O tempo havia se esgotado.

- Meia-noite - anunciou Águeda. - Tenho que ir.

- Alguém te esperando? - Indagou Rakel.

Águeda abriu a porta da secadora e começou a retirar as roupas, antes de responder em tom malicioso:

- Você, daqui à sete dias, onze da noite.

Rakel balançou afirmativamente a cabeça.

- Não vou me atrasar.

- [06-04-2022]