PÁRE TUDO, QUERO VOLTAR
Pensei, tou maluco quero voltar.
José Torquato – Janeiro
As pessoas andavam se acotovelando na calçada (calçadão) do centro daquela cidade sem olhar para nada, olhar fixo e perdido num horizonte virtual, as mãos ocupadas uma em abanar ao conversar sozinhos, a outra com um aparelho junto ao ouvido, onde penso, conversavam com algo, um espírito, um demônio, eu estava pasmo, uma multidão de pessoas cada uma só, em um mundo particular, a conversar animadamente com um aparelho. Em minha era, no meu tempo, nós cairíamos da risada antes de mandar prender e internar e turma toda. Houve tempo em que essas pessoas seriam queimadas em fogueira.
Ninguém prestava atenção em mim, aliás ninguém notava nimguém, e eu observava as vestimentas, as modas daquela era, eram farrapos bem feitos em forma de bermudas e camisetas sem gola, aos pés maravilhosos tênis. Não havia postura ao andar e muito menos ao sentar. Não havia elegância no vestir, havia comodidade, mas não havia felicidade da postura elegante, do caimento perfeito da indumentária. As pessoas não tinham um mínimo de respeito e educação, gritavam ao falar com o aparelho, gesticulavam como quem estão a brigar.
As lojas não havias as tradicionais vitrines, eram lojas sem criatividade, mas exibiam itens que nunca sonhei televisão colorida linda e bem fininha, sem móvel. Um monte de aparelhos daqueles que enlouquecem o povo., coisas reconhecíveis parecidos com vestidos, travesseiros, liquidificadores e ventiladores, outras nem me atrevo a dizer para que servem.
Tão egoisticamente preocupados com seu mundo individual eles não notaram minha calça boca sino cintura alta quadriculada, e muito menos minha camisa gola Elvis, e nem o cinturão largo com fivela de aço brilhante e as fivelas da minha bota “Cavalo de Aço” com salto de uns 10 cm. Eu era magro e cabeludo, mas não tanto.
Me virfei para meu companheiro de viagem, meu professor de física na Escola Técnica Federal e ele disse.
- Vai piorar, por enquanto se prende e isola o ser humano pelos ouvidos. Se bem que existe a linha visual como TV de mão neste mesmo aparelho. MAS VEM AI O PIOR = ÓCULOS QUE ELES COLOCARÃO NA FACE E SAIRÁ POR COMPLETO DESTE MUNDO, AMARÁ, NAMORARÁ, E ATÉ COMPRARÁ E DECORARÁ CASAS, CARROS E ETC. ATRAVÉS DESTE MUNDO inexistente criados por uma realidade que só está nos óculos, o aparelho terá sensações térmicas e de odor. SERÁ REALMENTE O ISOLAMENTO TOTAL E A PERDIÇÃO REAL DESTA CIVILIZAÇÃO.
Pequei na mão do professor e implorei para voltar a 1977.
BY j.torquAto de b.filho