"PASSAGEIRO" INDESEJÁVEL

OBS: não sei se é a comida -- todas as noites um restaurante nos doa uma "quentinha" -- mas nunca sonhei tanto... este sonho inicia com meu irmão evitando uma "alça" enorme, ela á procura dos filhotes. Para fugir dela subimos num platô ao lado da rua de terra vermelha. Demos azar: estavam lá toda a "família alcina" (os 2 filhos, "tios", o "alção-pai") e mais um leão velho de fazer dó atrás de uma porca imensa. Pra quem gosta de Jogo do Bicho, haja palpite ! No sonho, sigo sozinho, agora num "ônibus maluco" quase sem cadeiras, pelo que seria a praia de Ipanema. Para produzir o conto -- entrou até "capoeiras" e guardas municipais em trechos do sonho -- juntei as imagens desconexas:

"PASSAGEIRO" INDESEJÁVEL

Symphrônio acordara de mau-humor, a esposa amanhecera acamada, com mal-estar geral -- será "visita da cegonha", de novo ?! -- e êle saíra pro "trampo" sem nem tomar café. Pior, chegara atrasado a gare e lhe deram a "ambulância", ônibus quase sem cadeiras, próprio para pegar cestos e sacos dos "camelôs" da feira do Ver-o-Peso em Belém, que os levam para seus bairros. Porém, esse "causo" se passa no Rio, ora bolas !

Seguia o ônibus esquisito pela orla da Zona Sul, rumo ao Centro, trânsito ruim, os carros parando para ver a novidade nas areais brancas, um bloco marrom & laranja com imensos galhos na cabeçona... um alce, mancando, pata dianteira feirda. Todo de azul, um guarda municipal apitava, desesperado. Sinalizou pro lotação, distintivo na mão feito um xerife, braço esticado pro alto. Symphrônio parou, agastado:

-- "Qual é o pó", seu guarda... 'tô atrasado" !

-- "Não 'tá mais ! Vais levar o "garoto" aqui pro Miguel Couto" !

-- "Não vou mesmo, nem é minha rota, estou indo pro Centro. Além do mais, cachorro não entra em coletivo" !

-- "Êle não é cachorro, é um ALCE e eu sou a autoridade aqui... bota o bicho nessa porcaria ou vai "em cana" !

O azar do Symphrônio estava só começando; os tempos eram outros e todo mundo agora era ecológico, um defensor do "meio ambiente" inteiro. O povaréu se revoltou:

-- "Bota o "Alcino" no lotação... o senhor não tem coração" ?!

Os tempos mudaram, todo mundo agora tem celular e o motorista tinha o seu. Ligou pra garagem, a ordem foi direta: "ou cumpria o itinerário ou ía pra rua" ! Passou o celular pro guarda, vermelho de irritação pela recusa do "motora" rebarbado em socorrer o animal.

-- "Senhora, sou a autoridade aqui... ou leva o "Alceu" pro hospital ou confisco o ônibus, interdito esta porcaria" !

Retornou o celular ao motorista, que ouviu a contra-ordem:

-- "Autoridade", a ordem do escritório é pra eu terminar o itinerário com os passageiros até o Centro e, de lá, levo o bicho. É isso ou o Alcino, Alceu ou seja lá o que fosse, ficar na praia" !

A autoridade aceitou o acerto, não tinha outro jeito. Com a perna da frente avariada o monstrengo não conseguiria subir os degraus mas, felizmente, nesse ônibus havia elevador para cadeirante. Uma idosa histérica resolveu "empombar" com o animal;

-- "Tire esse bicho de perto de mim, que êle vai me morder" !

-- "Êle é vegetariano, não come carne, velha sonsa" !

Começou um bate-boca no meio do lotação, o alce irritou-se com a situação, balançou a cabeçorra e cravou 3 ou 4 chifres na lataria do teto do coletivo. Symphrônio "explodiu":

-- "Puta que pariu... acabou a "zona" no MEU ônibus. Todo mundo pra fora já, fica só o alce e a "autoridade" !

O pessoal agradeceu, o alce fedia mais do que caminhão de lixo, cheio !

Chegaram ás 11 horas ao zoológico da Quinta da Boa Vista sem passar por hospital nenhum -- muito menos o Miguel Couto -- mas lá teriam veterinários. Porém, e sempre tem um porém, animais ali só com licença do IBAMA e o "Alção" não tinha nem selo de chumbo na orelha !

-- "E agora, "autoridade de merda", vais fazer o quê" ?!, "rosnou" o Symphrônio, babando de ódio por ver seu ônibus arruinado. Êle é que iria pagar pelo conserto do teto !

-- "Vamos pro IBAMA, seja lá onde fôr" !

-- "Não vou a lugar nenhum, otário... te vira sozinho" !

Pegou o martelo na caixa de ferramentas, terminou de arrombar o teto liberando o bichão horrendo na extensa grama da Quinta lotada, para gáudio da garotada. O guarda indócil, já imaginando o fim daquela "tragédia", liga desesperado pro IBAMA:

-- "Aqui é o militar 3485BX13, da Guarda Municipal... tem um alce solto na rua, vocês podem vir pegar" ?!

-- "Isso é coisa pra "carrocinha", amigo, no IBAMA não há local para guardar, recambiamos para a floresta" !

-- "Pois, então, façam isso ! O animal está na Quinta" !

-- "Pode estar na Sexta, até no Sábado... (gracejou o funcionário, quase bocejando) o IBAMA só trata de animais brasileiros e alce é da Europa. Ah, animais e aves silvestres, cachorro e gato não servem" !

E bateu-lhe o celular na cara ! A "autoridade" viu o interesse da garotada pelo alce e, como morava perto, o levou para sua casa, onde lhe deu um senhor banho, com direito a shampoo "de cachorro". Na mesma tarde recebeu telefonema: fôra DEMITIDO por abuso de autoridade, a empresa de transportes coletivos relatara as "barbaridades" cometidas contra o motorista. O ex-guarda agora ganha "um dinheirão" fotografando crianças montadas no Alceu, Alcino, Alcindo... ou seja lá que nome tenha o monstrinho !

"NATO" AZEVEDO (em 16/jan. 2022, 7hs)