VIA-SACRA DA BUROCRACIA

VIA-SACRA DA BUROCRACIA

(Este é só mais um sonho que se torna conto... quer que eu faça o quê ? Ignore a "sugestão" ?!)

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A fila seguia morosa, irritante, arrastando-se mais lenta que a procissão do Círio de Nazaré, em Belém. Os Bancos todos "driblaram" a lei que pune demora no atendimento colocando caixas eletrônicos "esternos" ou quase isso, na entrada dos seus prédios. Lá a demora pode ser interminável mas não gera processos.

Melchizzedeck Farinha não tinha muita intimidade com os tais Caixas, porém enfrentar a fila "lá dentro" êle não faria, estava sem tempo. Quase hora e meia depois, chegou a sua vez... "cola na mão", as operações todas bem anotadas, uma a uma. Nervoso, esqueceu de digitar o valor a retirar e, ao apertar a tecla verde, a máquina "cuspiu tudo", 19 MIL REAIS em um bolo enorme de notas amarelas, roxas e azuis. O restante da fila de olho no velho, que nem "capanga" tinha... não, não me refiro a algum "jagunço" atuando como "guarda-costas", trata-se daquelas bolsinhas pavorosas "amarradas" na cintura. O ancião começou a tremer, suar, a "ter um troço" diante da máquina estúpida.

-- "Como é, vovô, vais sair "dessa merda"... ou não" ?!, vociferou uma "jamanta" logo atrás e seu mal-estar piorou muito.

-- "Alguém aí chame o gerente, um funcionário, não posso sair com essa dinheirama toda, daqui" !

-- "Então, DOE essa "p*rra", mas libere o Caixa" !, tornou a "baleia".

Um jovem da fila, alma caridosa, voltou do interior do Banco com funcionária da portaria, mais parecendo manequim da Semana de Moda paulista, a tal SPWF.

-- "Senhorita, não posso sair com esse valor todo, quero tornar a depositar" !

-- "Não dá, amigo... é dinheiro do INSS, de aposentadoria, nós só "guardamos" êle aqui, não é conta real do nosso Banco" !

-- "Então, abro uma Conta aqui agora e faço o depósito" !

-- "Hoje não pode, só amanhã... as senhas para "não clientes" se esgotaram, são 50 atendimentos por dia, chegue mais cedo" !

Contrafeita, a moçoila lhe conseguiu sacolinha que o Banco dava como brinde às cliente mais seletas. Cor-de-rosa e cheia de enfeites e brilhantes, para desgosto do "macho Alfa" que era o 'MexZedex", como o apelidaram os amigos. Pegou um táxi direto para a agência da CAIXA, perto dali, já passando do meio-dia, só 2 horas para fechar a agência. Mal acabou de abrir a conta-corrente, nova surpresa: "em dinheiro-vivo" -- nem imagino o que seria um "dinheiro morto" -- só poderia depositar 3 MIL reais, era a nova regra. Apenas transferências eletrônicas podiam ser maiores, acima disso.

Teve uma idéia luminosa: ligou pra meia dúzia de parentes, que viessem ao Banco documentados, com urgência. Abriu conta para cada um, "milionários" por 1 dia, 3 mil reais mais ricos por algumas horas somente.

Voltou na manhã seguinte com a "filharada" a tiracolo, para fazer a tal TED, transferência eletrônica de dinheiro, agora para a conta dele, recebendo cada um cem reais e uma "conta inativa" na CEF, como milhares de outras, já que vivem "duros" ! Mas, a burocracia continua, nada mudou !

"NATO" AZEVEDO (em 30/dez. 2021, 5hs)