Café na cama
Quando Williamina acordou, o sol já ia alto, mas o quarto, com as cortinas fechadas estava mergulhado na penumbra. Lembrou-se dos acontecimentos da noite/madrugada e perguntou-se se sonhara com tudo aquilo. Não; o vestido cor de salmão estava dobrado nas costas de uma cadeira, os sapatos de salto-alto junto dele. Olhou para a cama que normalmente usava, e ela estava vazia, os lençóis e o cobertor cuidadosamente dobrados sobre o travesseiro. Nem Margeret, nem Alison, que dormira ali, estavam presentes; sentiu-se um tanto decepcionada, como se houvesse sido abandonada. Mas, ao menos, Margeret avisara que iria se ausentar. Já Alison...
A maçaneta girou e como se houvesse sido combinado, Alison estava diante dela. Havia trocado de roupa e trazia uma bandeja equilibrada no braço esquerdo. Seu rosto iluminou-se ao ver que Williamina havia despertado.
- Está com fome? - Indagou, exibindo a bandeja e fechando a porta com um ombro.
- Alison... você me trouxe café na manhã? - Questionou surpresa Williamina, afastando os lençóis e sentando-se no leito.
- Bom dia pra você também, Williamina - replicou a interpelada com uma piscadela, puxando uma cadeira e sentando-se diante da colega, bandeja no colo.
- Bom dia, Alison... não precisava ter feito isso; não estou doente...
- Pedi que me fizessem esse favor, no refeitório; que você não estava se sentindo bem depois do baile de ontem. Exagerei?
Williamina correu os dedos pelos cabelos desgrenhados e depois abanou a cabeça, como que para afastar o sono de si.
- Não totalmente... embora não esteja de ressaca. Tive que ficar com meus sentidos alertas para poder passar pela maratona da Casa da Lagoa...
- Então, não bebeu nem um tiquinho, a festa toda?
- Nem bebida, nem comida - afirmou solenemente Williamina. - Você reclama da influência da Margeret, mas ela me preparou para que eu pudesse voltar de lá sã e salva. A Margeret... e você.
- Eu? - Indagou Alison intrigada. - O que eu fiz?
Williamina inclinou a cabeça, como que para ver melhor a colega.
- Ser quem você é; minha âncora.
Alison corou e ajeitou os óculos sobre o nariz.
- Eu sou sua âncora? Desde quando?
- Desde que a Residente confirmou que era você - redarguiu suavemente Williamina. - Mas acho que eu já deveria ter desconfiado disso antes...
E para quebrar o clima emotivo que estava se formando, apontou para a bandeja.
- Posso me servir?
- É tudo pra você - assegurou Alison. - Leite, chá, waffles, mel e torradas.
- Não vai me acompanhar?
- Bem, acho que vou de chá com torradas... - admitiu Alison.
Serviram-se e comeram em silêncio por alguns instantes. Em seguida, Williamina comentou:
- Aquele baile da Casa da Lagoa... é mais como uma competição de resistência, não de habilidade. As Residentes não parecem interessadas em quem dança melhor, mas em quem fica mais tempo em pé.
Alison lançou um olhar especulativo para os sapatos de salto-alto.
- Você dançou?
Williamina riu.
- Eu não! Ou não estaríamos tendo essa conversa agora...
Diante da testa franzida de Alison, complementou com uma careta:
- O mais provável, é que eu estivesse na enfermaria, recebendo soro na veia.
- [16-12-2021]