ATENDENDO A UM CHAMADO DE MINHA BISAVÓ

   Acordei meio assustado com o barulho de animais domésticos que viviam no imenso quintal de casa, morávamos longe da cidade grande, numa área rural, um local de grande calmaria. Estranhamente essa manhã fora diferente, parecia que um vendaval se abatera por ali e assustara os bichos, mas não sei exatamente o que aconteceu. Eu já tinha meus quase dezoito anos e me sentia dono de mim, levantei, tomei um banho, me troquei, tomei meu café com cuscuz quente ensopado com caldo de carne e quando já ia saindo para as tarefas no roçado me deparei com Severino, um primo que morava em outro casarão nas redondezas, porém da mesma fazenda da família. Nos cumprimentamos e ele me falou que nossa bisavó queria me ver. Imediatamente me veio a lembrança dela, semblante magrinho, longos cabelos brancos, aquele ar austero de quem não gosta de ser ofendida em suas determinações (o que eu já sabia perfeitamente) e o inseparável cachimbo que pitava duas vezes por dia, logo pela manhã e de tardezinha. Confesso que fiquei preocupado com esse pedido dela, mas procurei cumprir, deixei minhas atividades habituais e para lá me dirigi, já que ficava nas proximidades.

   Em lá chegando, depois de uma caminhada de cerca de meia hora, me defrontei com o casarão bastante corroído pelo tempo, o que não era de se esperar.  Ninguém ali estava trabalhando na roça como de costume, o que estranhei também. Mas a casa lá estava, do mesmo jeito que eu conhecia (ou imaginava conhecer, pois tudo parecia tão estranho!). Parei antes de entrar, olhei as redondezas, nem um pé de pessoa para que eu pudesse perguntar o que estava acontecendo. A porta de entrada estava semi aberta, olhei um pouco desconfiado mas segui em frente e entrei (seja o que Deus quiser!). Entrei cuidadosamente perguntando: "tem alguém aí?" Assim que escancarei a porta lá estava ela, minha bisavó, seu nome era Joana. Do mesmo jeitinho que eu a conhecia. De braços abertos e sorrindo me convidou a um abraço e eu aceitei quase que imediatamente, não por vontade própria, mas por um impulso que praticamente me empurrou para ela. Nos abraçamos demoradamente e eu comecei a chorar, inexplicavelmente eu derramava rios de lágrimas. Acordei consciente de que não era aquele jovem de quase dezoito anos e sim este que hoje já conta 72 anos de idade.

  

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 27/11/2021
Código do texto: T7395218
Classificação de conteúdo: seguro