UMA VISÃO DEPOIS DO ACIDENTE
O carro desenvolvia uma certa velocidade, mas Pedro mantinha-se tranqüilo no volante apesar de um certo desconforto emocional, estava chateado, saíra de casa após uma pequena discussão com Laura, sua esposa, ultimamente eles vinham brigando por motivos fúteis, nada justificava essa ira de ambos. O rádio do carro tocava uma música estrangeira, Pedro gostava, era seu tipo musical, aliviou um pouco a sua perturbação mental, porém isso não o poupou de acelerar o veículo, talvez nem tenha percebido que forçou demais o acelerador empolgado com a música. Voltaram a sua mente os problemas deixados em casa, parecia escutar os gritos de Laura, o que o fez deixar pela metade o café da manhã e se dirigido para a garagem onde entrou no carro e deu partida rapidamente sem ao menos fechar o portão, o que irritou a mulher.
A estrada estava com pouco movimento de trânsito, o que fez Pedro estranhar, geralmente num dia de semana o fluxo é intenso, mas ele não percebeu isso, via um ou outro veículo que passava por ele. Tomou gosto e acelerou mais ainda, algo o induziu a isso, no painel o velocímetro marcava 140, ele riu. Toca o celular, ele olha e percebe que é a esposa, recusa-se a atender, mas com a insistência resolve atender. Nem chegou a pegar no aparelho, um estrondo brusco interrompeu a sua ação e ele só viu seu transporte capotar e descer ribanceira abaixo.
Passaram-se alguns dias, Pedro despertou levemente, mas não conseguia se mexer e tão pouco balbuciar uma única palavra. Apenas viu embassadamente a imagem de Laura ao seu lado, ela chorava, o que nem isso ele conseguia. Estava ali, imóvel, apenas ouvindo o que pouco se conversava naquele ambiente que deduziu ser um quarto de hospital devido aos equipamentos que vislumbrava. Viu a filha Natiele ao lado da mãe, ela também se mostrava preocupada. Queria dizer alguma coisa mas a voz não ajudava, nada saía de sua boca. Nenhum esforço foi possível para que demonstrasse que estava vivo após ver o médico fazer um sinal negativo para Laura. Ficou impaciente, perturbado, mas nada podia fazer, infelizmente. Essa foi a única vez depois do acidente que viu sua família, em seguida tudo escureceu e ele perdeu o contato com o mundo.