O SONHO DE MAURO
Mauro trancou a porta do quarto dizendo para a esposa que ia dormir um pouco e que o acordasse às três da tarde, hora do seu lanche. Antes de cerrar as pálpebras pensou na manhã atarefada que tivera e esse descanso depois do almoço seria reparador.
Exatamente às três da tarde ele acordou sobressaltado, teve a nítida impressão de que seu corpo fora saculejado como se alguém estivesse a acordá-lo. Imaginou ser Fátima, sua esposa, pois pedira a ela para assim proceder. "Espera, mulher, não precisa tanto alvoroço!" - disse ele meio chateado com a forma como foi despertado. Olhou ao redor e não viu ninguém, ficou curioso e chamou por ela. Passaram-se alguns minutos sem ninguém responder. Mauro, então, atinou para um detalhe: ali não era o seu quarto. Espantou-se. "Estarei sonhando?" - perguntou a si próprio, ocasião em que procurou levantar-se para saber onde estava. O local estava envolto em uma penumbra, sem ter como enxergar direito caminhou alguns passos em busca de algo palpável e nada encontrou. A dúvida novamente lhe assaltou, estaria ele sonhando? Mesmo na penumbra olhou o relógio e concluiu que eram decorridos apenas cinco minutos depois das três horas. Adiantou-se mais alguns passos ao perceber que a penumbra se dissipava e uma claridade lhe vinha a retina. Viu uma janela entreaberta e dirigiu-se até ela, escancarou-a rapidamente e toda a luz que existia lá fora adentrou aquele ambiente estranho. Tudo ficou claro para ele, no entanto permanecia muito estranho aquele lugar onde ele garante nunca ter estado. Era imenso o local, não se via portas, apenas janelas e mais janelas. Tentou olhar lá fora mas não conseguiu, uma rajada de vento o afastou dela. Tentou outra janela e a mesma coisa aconteceu. Ficou ele naquele largo corredor andando para lá e para cá sem encontrar uma saída. E o pior veio depois, uma voz chamava insistentemente seu nome, Mauro procurava e não conseguia saber de onde vinha, era uma voz que lhe parecia familiar, no entanto ali não existia ninguém e a voz foi cada vez mais ficando próxima, o que lhe deixou atordoado. Tentou voltar para o ponto de partida, ou seja, o quarto onde estava e despertara nessa situação curiosa. Viu a cama onde esrava, o lençol e o travesseiro eram seus, reconhecera, mas o lugar era extremamente desagradável, muito diferente do seu quarto, que era cheiroso, ventilado e bem arrumado. "Que estranho!" - gritou quase perdendo o controle emocional, logo ele um cara tranqüilo e de bom humor.
Durante todos esses anos de convivência nessa casa, diante da atenção de Fátima, uma esposa gentil e fiel, jamais imaginou Mauro passar por uma coisa dessa, ser acordado dessa forma e ainda sem ver a mulher, que aos poucos foi deduzindo que a voz era dela. "Fátima!" - gritou desesperado. Por que me acorda assim? Onde está você que não vejo? A voz então lhe respondeu docemente: "Estou aqui, meu amor. Estou fazendo o que você me pediu. Já passam das três e você não acorda." Um sentimento de tristeza o envolveu e ele sentou-se na cama deitando-se em seguida ao sentir uma tontura. Acordou com Fátima lhe beijando a testa.