Leve-me ao baile

Livrar-se de Alison não havia sido fácil. A garota parecia realmente temer que algo de ruim acontecesse com ela, pensou Williamina, enquanto caminhava sem pressa pelo bosque da reitoria sob a luz do luar. A colega de quarto, Margeret, também havia feito várias recomendações, particularmente quanto ao modo de se portar entre os Residentes, mas nem de longe parecia tão preocupada com sua integridade física quanto Alison.

- Você e Margeret não se topam, - havia resumido Williamina para Alison - mas ela acredita muito mais no meu potencial do que você.

- Acredito tanto no seu potencial, que meu medo é que por conta dele, não te deixem voltar - insistira Alison.

- Muita gente sabe onde eu estou indo - replicara Williamina. - Até mesmo o senhor Lemar. Não se preocupe, não pretendo desaparecer.

E para não deixar dúvidas na mente da garota, despedira-se beijando-a delicadamente na testa.

Alison ficou estática, olhando enquanto ela se afastava pelo caminho por entre as árvores. "Agora não tem mais volta", pensou, não sabendo se estava se referindo à festa na Casa da Lagoa ou à sua relação ambígua com Alison. Bom, era algo que precisava descobrir ao voltar.

* * *

- Onde vai, Darganfyddiad? - Indagou uma voz, vinda da escuridão ao redor do caminho pontilhado de luar.

Williamina parou de andar e tentou vislumbrar quem se escondia nas sombras. Viu um vulto, levemente luminoso.

- Vou à Casa da Lagoa - respondeu, sem se abalar.

- Quer uma carona para chegar mais depressa? - Indagou o vulto.

- Mas é uma distância tão curta... - replicou Williamina, braços cruzados.

- Pense na impressão que vai causar, chegando montada em mim - insistiu a criatura, avançando ruidosamente entre as moitas.

Diante de Williamina, no mosaico de luz e sombras do caminho, estava um grande cavalo preto de pelo lustroso; um kelpie.

- Se eu montar em você, vai me carregar para dentro da lagoa e me afogar? - Inquiriu candidamente Williamina, braços cruzados.

O kelpie deu um relincho que soou como uma risada.

- Você está sob a proteção das Chwiorydd Cyfnos - afirmou a entidade. - Nenhum mal lhe sucederá enquanto estiver comigo.

Partindo de quem partia a observação, isso era no mínimo curioso, pensou Williamina. Finalmente, descruzou os braços e acariciou o lombo da entidade; era quente, macio e cheirava como um cavalo de verdade.

- Está bem - condescendeu. - Vou permitir que me leve ao baile...

- [26-10-2021]