E se multiplicarão os seus bens
E naquela noite, exaustos por terem cavalgado durante todo o dia através das terras desoladas de Düzarazi, além do vau do Yavashakish, a caravana finalmente atingiu a estrada real, e logo em seguida, uma pousada onde iriam passar a noite antes de seguirem para a capital da província, Öndiyar.
- Espero que este seja um um lugar onde poderemos passar a noite, sem qualquer preocupação sobre partir antes da alvorada - comentou Raphel, quando se reuniram ao redor de uma mesa para cear.
- Podem dormir sossegados - assegurou Kaleb.
Raphel pediu algumas jarras de cerveja, para comemorar a economia de tempo pela travessia através de Düzarazi.
- Provavelmente, seremos a primeira caravana a chegar em Öndiyar nesta primavera - avaliou Raphel, enchendo os copos de cerâmica. - Antes mesmo dos barcos que fazem a rota do mar Güney.
Ao ouvir aquilo, um dos frequentadores da pousada aproximou-se dele, curioso.
- O que trazem do norte? Sou mercador e também estou indo para Öndiyar, fazer compras.
- Um pouco de tudo - relatou Raphel. - Lingotes de cobre, vidraria, incenso, tâmaras, e até mesmo algumas jarras de cevada.
- Creio que poderia ficar com algumas dessas suas jarras de cevada - ponderou o mercador. - Importa-se se eu der uma olhada pela manhã?
Raphel concordou com a proposta, e após todos terem comido e bebido a farta, recolheram-se ao dormitório para uma merecida noite de sono.
* * *
Na manhã seguinte, após servido o chá, Raphel acompanhou o comerciante até o depósito da pousada, onde haviam sido guardadas as mercadorias transportadas pela tropa de mulas.
- A carga está intacta, - discorreu Raphel - exceto por um único grão de cevada que usamos para pagar a estadia em Sayirsheri.
- Sayirsheri? - Repetiu o comerciante, surpreso. - A cidade perdida de Düzarazi?
- Bom, perdida para os outros, não para o nosso guia Kaleb - jactou-se Raphel.
- Vocês realmente passaram uma noite lá? - Insistiu o comerciante.
- Sim, e foi algo bem estranho - admitiu Raphel. - Particularmente, por causa das tais regras de estadia.
- O seu guia deve ter falado nas três regras, suponho - ponderou o comerciante.
- Sim; a primeira, que fala que de lá nada se leva, a terceira, sobre o período de entrada e saída da cidade, e a segunda...
Raphel parou de falar.
- O que de lá for retirado, será reposto - citou o comerciante.
Raphel abriu a primeira jarra de cevada. Dentro dela, até a boca, havia agora dezenas de pires de bronze dourado, como o que ele havia levado de recordação e que Kaleb devolvera ao seu lugar de origem.
- Certamente, isso vale muito mais do que cevada - avaliou o comerciante.
- [05-10-2021]