vAsTi¨DoReS... do “cala boca já morreu”
Vasti Maria Anunciada das Dores cansou de José Aramato bancar o machão.
Esse marido até que é baixinho, quando comparado ao tamanho da coitada. Aliás, doravante “ex-coitada”.
Mas o "desinfeliz" gostava de bater em mulher, ou seja, em qualquer tamanho de mulher.
Agora chegou a vez dele.
Chegou a vez do José se transformar no ex-pancada, e passar a atual espancado.
Vasti durante quatro meses esteve livre da presença do José Aramato, que sumiu sem dar satisfação. Porém, ela sabia que ele retornaria para outra vez tornar a vida dela um inferno.
Na ausência do sujeito, Maria teve aulas com uma amiga perita em defesa pessoal desarmada.
José Aramato, quando chegou da tal “viagem”, já na hora do almoço, foi diretamente procurar pela Vasti na cozinha.
Mas, quando o José pôs o pé na cozinha, em poucos segundos voava pela porta dos fundos e já caía no solo, na famosa posição comprometedora.
Ainda no chão, o José enxergou a Vasti maior do que o tamanho natural dela — que já era muito.
Vasti pegou uma faca-peixeira. Deu alguns passos em direção ao indivíduo ali caído.
Em seguida, Vasti segurou a faca pela pontinha e a arremessou com força.
A faca rodopiou no ar e caiu cravada no chão, bem ao lado de uma das mãos do José Aramato.
Então, diante do semblante confuso e irado do sujeito, ela bradou:
— Agora, pega essa faca com que tu me ameaçaste várias vezes... e vem!
Aramato olhava desconcertado, mas pegou a faca e se levantou rápido como um gato. Mesmo assim, diante da expressão diferente da Vasti e também por não entender como havia voado até o quintal sem ter asas, hesitou em erguer a faca até a posição com que sempre ele ameaçou a companheira.
Então, a Vasti gritou:
— Vem, meu bem!
O espancador de mulheres recuperou-se da queda e da confusão mental em questão de um minuto. Imediatamente, adiantou-se na direção da costumeira vítima. Principalmente achou interessante executá-la de imediato, pois a vizinhança não o tinha notado quando chegou. E a casa mais próxima ficava a mais de cinquenta metros dali.
Vasti repentinamente pareceu ficar invisível. A faca e o homem não encontraram qualquer corpo pela frente. Na verdade, a mulher já estava por trás do agressor... levantando-o pelos fundilhos das calças.
José Aramato viu a casa rodar diante dos seus olhos. Na verdade, ele viu rodarem todos os móveis e até os bichos que ali criavam: o gato, o cachorro e o papagaio. Ele, em apenas alguns segundos, pensou estar de volta à infância e retornou à sensação de andar de carrossel. Mas, carrossel tem janela? Não. Não tem. Era ele que passava pela janela da cozinha, voando outra vez em direção ao quintal. Desta vez, caiu literalmente com a cara na moita. Naquele mesmo matagal, cheio de urtiga, onde ele havia esfregado o rosto daquela mesma ex-vítima. A faca ainda estava na mão dele, e foi por pouco que o corpo do valentão não caiu sobre ela. Apenas uma pergunta veio agora à mente dele:
— Estou tendo um pesadelo? Quando é que eu acordo?
O mundo não parava de girar aos olhos do José Aramato.
A mulher chegou perto e se abaixou. Finalmente ela estaria satisfeita?
Bem, na verdade ela parou mesmo de bater. Apenas forçou uma das mãos entre as pernas do valentão e deu um agarrão no volume que ali havia.
José Aramato foi suspenso pelo saco. Doeu? Não. Doeu é pouco, a julgar pela expressão daquele que já era um arremedo de homem.
Vasti carregou o antigo rei da pancadaria, apenas daquele modo: guinchando-o pelo saco enquanto o corpo pendia dobrado para trás com a cabeleira roçando o chão. O azarado gemia.
Mais ao fundo do quintal, Vasti repousou suavemente o corpo indefeso no chão. Porém agora o rosto virado para o chão e a cara bem em cima da sujeira do cachorro. Exatamente como ele havia feito com ela. O quintal era um pouco grande e havia muitas fezes dos animais (cachorro e gato), meio enterradas na areia. Mas, em poucos minutos aquilo tudo já havia grudado nas fuças do elemento tido como humano.
José Aramato acordou horas mais tarde, tomado banho, mas completamente sem roupa, e sentado à mesa com um prato de comida à sua frente. Escutou a ordem da mulher:
— Come! Sem reclamar!
A comida daquele prato estava totalmente contra o paladar do José Aramato. Foi então que a mulher perguntou:
— Está ruim, a comida?
José Aramato respondeu:
— Mas, quem é você? Onde está minha mulher?
Naquele momento, o gato que rondava a mesa saiu correndo. O cachorro começou a latir lá do quintal. O pau quebrou outra vez.
José Aramato gemia, levantava o braço tentando reagir, mas era imobilizado e atirado ao chão seguidamente. Ali, na cozinha, onde Vasti tanto havia sido espancada, uma vingança foi saboreada fria. Panelas foram amassadas, escolhidas de acordo com a dureza da cabeça daquele valentão.
Pãim, pãim, pãim, pãim.
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José Aramato sobreviveu.
A ex-coitada não era assassina.
José Aramato voltou para a cidade onde havia morado desde o tempo da adolescência. Lá ele era sempre aproveitado como cabo eleitoral do político mais poderoso da cidade.
Coincidentemente, aquele era o ano em que o prefeito iria tentar a reeleição e se lembrou daquele que sempre trabalhou para ele sem pedir muita coisa em troca. Era apenas fidelidade demonstrada por José Aramato ao homem poderoso que havia cuidado de sua família.
Mas, naquele ano, a coisa iria ser diferente.
José Aramato queria um pagamento muito especial.
Assim que o prefeito se reelegeu, ele José Aramato contou finalmente qual seria seu pagamento. Sim, ele queria que aquele político poderoso lhe conseguisse uma cirurgia de mudança de sexo.
José Aramato, agora, sonhava em ser “empoderado” como Vasti — sua corajosa ex-mulher, uma vencedora.
-FIM-