O Apelo

Noites de lua cheia, particularmente aquelas nas quais o céu está limpo, parecem alterar o humor dominante na universidade. Há um certo clima de expectativa, como se algo importante fosse acontecer, embora, para a maioria dos que ali vivem, nada de realmente extraordinário aconteça. Exceto, claro, se você recebeu um convite para uma festa na Casa da Lagoa, como Williamina Camburn.

- Que tal estou? - Indagou ela em frente ao espelho do guarda-roupa do quarto, após colocar o vestido e os sapatos enviados por Eunice Littlefield.

- Vai arrasar - assegurou Margeret, que a observava sentada na cama, pijama de flanela posto.

- E você? Vai dormir cedo justo hoje?

- Vou ficar aqui, esperando você chegar - assegurou solenemente Margeret. - Caso precise de um chá para combater a ressaca ou qualquer outro efeito inesperado causado pela sua noitada...

- Eu prometi que não iria beber - afirmou Williamina erguendo a mão direita como que num juramento. - Estou levando o lanchinho na necessaire que você me emprestou...

- Caso se sinta meio exaurida do nada, tem energético com sigilo de proteção, uma garrafa com água de geleira, dois sanduíches de queijo de cabra com mel e uma barra de chocolate grande - listou Margeret criteriosamente.

- Nem sei como vou poder te pagar pelo cuidado - admitiu Williamina.

- Voltando viva e inteira - redarguiu Margeret. - Ou Alison me mata.

Williamina fez uma careta e fechou a porta do guarda-roupa.

- Bom, está na hora de ir.

- Desculpe se não a acompanho até lá embaixo - disse Margeret, apanhando um livro na prateleira sobre a cama. - Vou ler um pouco, até vir o sono.

- Você vai mesmo ficar aqui, lendo? - Questionou Williamina, pondo as mãos na cintura.

- Confesso que bem poderia ir à uma festa do pijama no refeitório B, mas vou ficar quietinha aqui... esperando pela resenha da festa.

- Está bem - acedeu Williamina, apanhando a necessaire e verificando se o cartão-convite estava dentro dela. Estava. Olhou ao redor do quarto, subitamente acometida de por uma ponta de apreensão, sobre se o que estava prestes a fazer era realmente o correto. Como se houvesse captado a hesitação dela, Margeret desviou os olhos do livro e disse:

- A hora é essa, Williamina.

Williamina fez um aceno de cabeça e colocou sobre os ombros uma estola diáfana de tecido salmão, combinando com o vestido.

- Não fique acordada me esperando, Marge - recomendou.

- Vou me esforçar para isso - redarguiu Margeret, piscando um olho.

Williamina saiu para o corredor deserto da residência feminina. Parecia que todas as alunas ou estavam dormindo ou haviam ido para a tal festa do pijama. Apenas ela tinha um outro compromisso, e para isso teria que atravessar o bosque da reitoria. Felizmente, havia luar, pensou; e também felizmente, o bosque tinha fama - merecida - de ser mal assombrado. Williamina tinha mais medo dos vivos do que dos mortos, algo que provavelmente era do conhecimento de sua anfitriã, Eunice Littlefield.

Ao sair da residência universitária, viu que havia alguém à espera dela, sentada num banco sob as árvores. Não era a Residente, contudo, mas sua amiga Alison Mew.

- Você está linda - disse Alison, ajeitando os óculos sobre o nariz.

- Que bom que gostou - Williamina sorriu.

E foi então que Alison se aproximou e a prendeu num abraço forte.

- Por favor, Williamina... não vá!

- [25-09-2021]