A Espera

O fim da tarde se aproximava quando Josiah Lemar ouviu um grasnido às suas costas. O orientador estudantil virou-se na cadeira e deparou com um corvo no parapeito da janela de sua sala, aberta para um jardim de inverno. O corvo o encarou com seus olhinhos pretos e brilhantes e inclinou a cabeça para um lado.

- Então... ela chegou? - Indagou Lemar.

O corvo apenas grasnou novamente em resposta, e depois levantou voo. Lemar ergueu-se e saiu da sala, sabendo precisamente para onde deveria ir: o saguão da principal residência universitária feminina da universidade, por onde Williamina Camburn deveria passar em mais alguns instantes. O quanto ela estaria disposta a ouvi-lo, todavia, era uma incógnita.

No saguão, Lemar sentou-se numa poltrona destinada aos visitantes, com vistas para a entrada da residência estudantil, despertando a atenção de algumas das estudantes que circulavam por ali: um orientador deslocar-se da sua sala até aquele local, era no mínimo inusitado.

Finalmente, Williamina e Margeret surgiram, subindo os degraus que levavam ao saguão. Lemar ergueu-se e fez um aceno, para chamar a atenção da dupla.

- Olá, Williamina. Posso falar um minuto consigo? - Indagou o orientador, quando ambas se aproximaram dele.

- Te espero lá em cima - disse Margeret para a colega, afastando-se.

Williamina olhou para a colega, e em seguida para o orientador, parecendo haver sido pega numa falta.

- Pois não, senhor Lemar - disse por fim.

- Vamos dar uma caminhada lá fora - sugeriu Lemar, indicando que Williamina passasse à sua frente.

Desceram os degraus e Lemar escolheu um banco sob uma árvore, de frente para a residência universitária. Sentou-se ao lado da estudante e começou a falar:

- Estive aguardando que fosse me procurar lá na Orientação Estudantil, mas parece que você tem outros planos para esta noite, não é, Williamina?

A jovem o encarou muito séria.

- Eu estou correndo perigo, orientador Lemar?

- Quem escolhe a biblioteconomia como carreira, sabe bem o perigo que corre; não creio ser necessário lembrar você disto - replicou ele calmamente. - Mas, você tem demonstrado interesse em áreas que normalmente são o oposto do trabalho que se propõe a fazer, uma vez que tenha conseguido concluir seu curso. Está ciente disso?

Williamina mordeu os lábios.

- Quem disse isso para o senhor? Foi a Alison?

- Alison é apenas uma das pessoas que está preocupada com a sua segurança, Williamina - prosseguiu Lemar em tom persuasivo. - Mas não é a única. Nem eu, nem ninguém, sequer a magnífica reitora, pode garantir que comparecer à uma festa na Casa da Lagoa será apenas um evento social. Mesmo supondo que tudo corra bem, você pode sair de lá com bem mais do que uma ressaca para lamentar no dia seguinte.

Williamina o encarou perplexa.

- Se é algo assim tão perigoso, por que a universidade não toma providências? - Questionou.

Lemar entrelaçou as mãos no colo, enquanto acompanhava brevemente a passagem de um grupo ruidoso de alunas. Depois, voltou-se para Williamina.

- Williamina... no formulário de admissão para esta universidade, todo candidato declara estar ciente dos riscos que corre ao vir estudar aqui; particularmente para aqueles que escolhem o curso de biblioteconomia, mas não somente estes. O fato de termos entre nós os Residentes, pode ser um perigo para os indivíduos, sem dúvida, mas é uma vantagem competitiva para a instituição, que busca aprender com eles. Por isso, lamento ter que dizer, caso eventualmente algo desagradável lhe aconteça dentro de um espaço sob controle dos Residentes, como é o caso da Casa da Lagoa, estará definitivamente fora da nossa jurisdição; dificilmente poderemos lhe prestar socorro. Está ciente disso?

Williamina o encarou em silêncio. Finalmente, se externou:

- Eu só quero ir à uma festa para a qual fui convidada, orientador.

E erguendo os olhos para o céu, arroxeado pelo crepúsculo:

- Não acredito que, quem me convidou, queira me fazer qualquer mal.

- [23-09-2021]