L A T I D O S
Os latidos insistentes dos cães das redondezas me acordaram, a noite estava tão silenciosa e eu mergulhado num sono profundo e nem lembro mais qual era o sonho que me deixava tão tranqüilo, não fosse esses malditos cachorros eu me enveredava madrugada a dentro e dava vazão aos meus impulsos durante esse descanso do corpo. Por que isso, me perguntei, mas como eu mesmo poderia me responder se a pergunta era minha ?
Latem os quatro patas lá fora, eu ainda sonâmbulo procurava me concentrar e entender o que estava acontecendo, diabo de barulho logo agora nessa hora de um merecido repouso depois de um dia enfadonho. Insistem em me azucrinarem os ouvidos com esse barulho ensurdecedor, mas aí eu pensei, alguma coisa deve estar acontecendo. Dei um tempo para ver se eles paravam e nada, a preguiça me dominava o corpo cansado e eu relutando para não levantar.
Os latidos não paravam e eu, já de pé, me pus na janela com o intuito de abrí-la, afinal estava no primeiro andar de um velho prédio de apartamentos e não seria difícil identificar a origem do fato desagradável. A janela não abria, o ferrolho, não sei porque, não funcionava. Era dessas janelas de madeira já corroída pelo tempo, eu nem me preocupei de pintá-la e colocar óleo nas ferragens. Tão duro estava o ferrolho que não consegui movimentá-lo, porém milagrosamente os latidos pararam assim de repente e um vento frio entrou pelas frestas que me deixou impressionado. Vi nitidamente quando a janela se afastou de mim sem eu ter dado um único passo, estava eu agora sentado na cama, o silêncio reinava como anteriormente e eu dei graças a Deus, mas ficou aquela sensação estranha em mim. Me deitei, mas minha impressão era de que não teria me levantado. Silêncio absoluto e a incerteza se realmente eu me levantei.