Um convite pessoal
- O que acha? - Indagou Williamina, exibindo de longe para a colega de quarto o cartão-convite que lhe fora entregue pela Residente. Os olhos da interpelada brilharam.
- Mas que sorte! Um convite pessoal de Eunice Littlefield?
Deitada na cama junto à porta, Williamina balançou afirmativamente a cabeça.
- Já viu um desses?
- Já... mas nunca ganhei um - admitiu a colega, que não era outra além de Margeret Northwood, com um brilho malicioso no olhar. - Acho que não sou interessante o suficiente.
Na verdade, Margeret estava sendo falsamente modesta; a importância dela para os Residentes, dentro dos muros da universidade, é que a tornavam não-elegível para as festas nos salões do Outro Lado, não a sua suposta falta de traquejo social.
- O que, exatamente, acontece nessas festas? - Inquiriu Williamina curiosa.
- Há muitos boatos, nada de concreto - minimizou Margeret, sentada em sua cama sob a janela do quarto, envolvendo os joelhos com os braços. - O que se sabe é que são organizadas pelas Chwiorydd Cyfnos, e para entrar, você precisa de um convite de uma delas - como a Eunice Littlefield.
- Quem são essas Chwiorydd Cyfnos? Residentes?
- Nem todas - assegurou Margeret. - Elas têm uma casa de irmandade, do outro lado do bosque da reitoria, junto à lagoa. Parece uma pequena mansão vitoriana, de três andares, pintada de salmão; você, com certeza, já a viu.
Williamina recordava-se do edifício, mas sempre pensara que o prédio, habitualmente fechado, fosse parte da administração da universidade. Estava bem cuidado, cercado de jardins floridos, e não parecia mal assombrado ou algo assim.
- Aquela casa é a sede das Chwiorydd Cyfnos? Como conseguiram um lugar assim, só pra elas, fora da ala dos dormitórios femininos?
Margeret deu de ombros.
- Vai poder perguntar em primeira mão... se tiver coragem, é claro.
E recostando-se de costas na cama, virou-se para a colega, deitada do outro lado do quarto:
- O que você precisa lembrar, é que as Residentes fizeram acordos com a universidade para estarem aqui; há áreas reservadas para elas, que os estudantes comuns não têm acesso. Não sei o que ofereceram em troca da casa da Casa da Lagoa, mas não deve ter saído barato...
- Ou seja, - Williamina apoiou-se num cotovelo - a casa agora é delas.
- Enquanto o contrato não for quebrado por qualquer das partes, creio que sim - ponderou Margeret. - Mas, enfim: você pretende ir?
Williamina sentou-se na cama e encarou Margeret, expressão séria.
- As pessoas... voltam dessas festas?
Margeret fez um aceno positivo.
- Se elas assim o quiserem, certamente.
- [25-08-2021]