Campo de Conhecimento
- Então... você gostou da experiência? - Provocou Margeret.
Do outro lado da mesa da cantina da universidade, Williamina ergueu os olhos da bandeja contendo o chá da tarde.
- Eu não me senti assustada com a presença de... bem, você sabe. A gente sempre se pergunta qual será a nossa reação quando algo assim acontecer, e a minha definitivamente não foi de medo - afirmou, colocando dois cubos de açúcar no copo de papel com chá.
- O que não é o mesmo que dizer que não estava em perigo - redarguiu Margeret. - Nunca se pode dizer com certeza o que querem de nós, mesmo quando parecem amigáveis e perfeitamente razoáveis. Lembre-se: eles não são humanos. Suas motivações, caso as pudéssemos conhecer, talvez não façam o menor sentido para nós.
Williamina balançou a cabeça em silêncio, e depois tomou um gole de chá.
- Mas se quer mesmo interagir com algum deles, essa que você chama de Laranja pode ser um ponto de partida.
Abaixou a voz, antes de prosseguir:
- Ela usa um nome humano para fins de cadastro, naturalmente, embora não seja uma aluna regular da universidade.
- Um nome humano? - Williamina começou a comer seu sanduíche de ricota, enquanto ouvia Margeret com atenção.
- Eunice Littlefield. Littlefield é um sobrenome comum entre eles, parece ser algum tipo de piada interna, embora não sejam necessariamente parentes.
- Eles frequentam nossas salas de aula, mas não são estudantes? - Inquiriu Williamina.
Margeret despejou um pouco de mel no copo de leite à sua frente.
- Eles são considerados ouvintes; estão aqui para nos estudar, creio. A universidade sabe disso, naturalmente, e consente tacitamente; é um pacto não escrito: não os atrapalham e eles não nos criam problemas.
E, após beber alguns goles de leite adoçado:
- Quer dizer, quase sempre não criam problemas; exceto quando um dos nossos resolve interagir com eles sem ser convidado.
- Só quero saber um pouco mais sobre quem são - afirmou Williamina em tom evasivo.
- E quem não quer? - Margeret a encarou com ar brincalhão. - O que você deve perguntar é se tem condições para isso. Ícaro queria voar até o sol, e teve suas asas queimadas.
- A cera das asas derreteu - corrigiu Williamina.
Margeret estendeu o braço e tocou na fronte de Williamina com o dedo:
- Aqui fica a cera que poderá voltar derretida depois de um encontro com eles - alertou.
- [18-08-2021]